quarta-feira, 1 de junho de 2011

Morangos Silvestres

Porque estamos aqui? Qual o objectivo de tudo? O que há depois da morte?
Apenas algumas questões que perturbam o ser humano, por muito que as tentemos esconder no fundo duma rotina diária ou uma existência controlada (algo nonsense ou imprescindível para não endoidecermos?).
Apenas algumas temáticas da maioria dos filmes desse génio que se chamava Ingmar Bergman.
Após visionar de novo Morangos Silvestres, não posso deixar de me questionar - tal como muitos dos personagens que atravessam o universo bergmaniano – sobre o porquê? Penso que essa é, acima de tudo, a questão que reside: porquê? À semelhança dos temas fundamentais do meu queridíssimo Dostoievski, também este realizador se debruça sobre a fé ou o sentido de tudo. Sobre se vale ou não a pena permanecer numa existência que não se escolheu e se vale ou não a pena oferecer essa existência a um novo ser.
Bergman tem ainda uma outra característica (tão sua) de (nos) levar de volta à infância. A infância como representante duma inocência, em que a nossa visão está condicionada pelo nosso próprio pensamento. A infância (ou inocência?) como sinónimo de alegria, conforto, dias solarengos e até mesmo da própria felicidade. A eterna luz e o acolhedor sol que só a juventude dá. Será por isso que se gosta tanto de voltar à infância? Será por isso que nos recordamos tão nitidamente de determinados e poderosos pormenores de cada momento marcante (os pormenores…sempre os pormenores)? Será por isso que nos sentimos tão bem com quem nos transmite (mesmo que ilusoriamente – porque o que vemos depende apenas e tão só de nós mesmos) essa certa luz, como se regressássemos à infância ou (para ser mais precisa) a uma inocência perdida?
Neste dia mundial da criança (particularmente celebrado cá, com honras de feriado, cuja taxa de crianças e jovens é extremamente elevada comparativamente à restante população) dediquemos não só este dia a todas as crianças do mundo, mas também à criança que fomos e à criança que deveremos evitar que se desvaneça em nós, aprisionada.
“Amar é a eterna inocência
E a única inocência é não pensar.”
Alberto Caeiro

Um comentário:

  1. Grande texto...
    A fase africana de Nana continua a produzir belos textos. Continua!!!

    Beijinho

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