terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pensamento do Dia

Se não consegues salvar o mundo, pelo menos salva-te a ti a próprio.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Eterna Guerra dos Sexos

A sociedade tem mudado. O papel do homem e da mulher na sociedade e no mundo têm vindo a mudar. Mesmo assim e, apesar do longo percurso que as mulheres têm vindo a percorrer, ainda há resistências, sobretudo transmitidas por uma geração em que as coisas eram diferentes.
Ao ler uma entrevista da iraniana Shirin Ebadi (Nobel da Paz 2003) não podia deixar de estar mais de acordo que tem de partir (também e sobretudo) das próprias mulheres a afirmação para que haja mudanças. É difícil, sobretudo em gerações nas quais é dever e obrigação da mulher tratar da lida doméstica, independentemente de trabalhar fora ou não, gerações nas quais as meninas devem pôr a mesa e ajudar a limpar a louça, sendo que os meninos são “desculpados” dessas tarefas, ou não são tão “advertidos” que deverão ajudar nesse sentido.
Um destes dias, ao chegar do Supermercado, a minha mãe afirmou com ar escandalizado que tinham colocado congelados juntamente com bolachas, provocando a eventual degradação das mesmas. E afirmou categoricamente: “Ainda por cima era uma mulher… se ainda fosse um homem. Mas uma mulher. É inadmissível.” O quê que isto é suposto querer dizer? Terão as mulheres mais responsabilidade de estar sensibilizadas relativamente às condições de temperatura dos alimentos? Ou estar mais atentas a determinados pormenores? Ou pior, têm mais obrigação de perceber do assunto do que um homem? Um homem estaria desculpado por ser homem “Coitadito… é mesmo cromo como todos os homens. Os homens não percebem nada disto.” É de facto, este sentimento de complacência/tolerância para com os homens e ressentimento/intolerância para com as mulheres que é completamente discriminatório. É exactamente este comportamento que tem de mudar. Que não pode continuar a passar de geração em geração. Há ainda um longo caminho a percorrer, mais nuns países do que noutros. Eu tenho esperança, tal como Shirin que a Humanidade caminhe nesse sentido. Tenho esperança que homens e mulheres se unam nesta luta: terminar com todo e qualquer tipo de descriminação.

E, depois, há ainda a questão de homens que não sabem distinguir igualdade de cavalheirismo. (Eu diria até mesmo, humanidade para com as mulheres). Há homens que acham que igualdade é não deixarem uma senhora entrar primeiro num edifício, como se isso fosse algo mais do que um simples acto de cortesia. Ou acham que uma senhora deverá fazer um percurso numa viagem de pé, como se uma senhora não tivesse uma estrutura física mais frágil e menos resistente do que a de um homem. Piores do que estes espécimes, só mesmo os que sendo “cavalheiros” o são porque acham sempre que a mulher é um ser inferior e que (embora fisicamente seja incomparável) não possa estar à sua altura em qualquer outro desafio. Há mulheres que lêem muito bem mapas, há mulheres que têm uma excelente noção espacial, há mulheres que conduzem impecavelmente. Creio que apenas no plano físico os dois seres são incomparáveis; nos restantes podem – e devem – ser igualizados.

Há um filme muito interessante – embora muito leve – sobre esta temática. Chama-se Down With Love e aborda a eterna guerra dos sexos. O que os divide, as notórias diferenças, a maneira de pensar ou de agir de uns e outros. Como não poderia deixar de ser, o filme aborda também o que os une e em como nessas diferenças, por vezes, estão mais pontos em comum do que se imagina. E apesar de tudo isso - ou por causa de tudo isso - não conseguem viver uns sem os outros.

Sons do Brasil

Sempre achei que uma das maravilhas mundiais - uma verdadeira dádiva ao mundo – é a música brasileira. Os géneros que a música brasileira possui abrangem os mais variados gostos. Há quem tenha a mais pura fobia e aversão à música brasileira. A começar em minha casa, tenho um exemplo vivo de quem deteste ou não seja particular apreciador de todo e qualquer estilo musical que venha da terra das caipirinhas.
Esta aversão às músicas brasileiras sempre me fez uma certa confusão. Como é que alguém gosta da Girl From Ipanema interpretada por Sinatra, mas não ouve a Garota de Ipanema de Vinicius? Como é que alguém adora jazz, mas não suporta bossa nova?
Após conviver com imensas pessoas, cuja aversão à música brasileira é saliente, concluo que a aversão não é a música (pelo menos não dentro do estilo que a pessoa em questão possa apreciar), mas sim à língua ou ao sotaque que a língua portuguesa adquire na boca dos brasileiros.
De facto, o sotaque brasileiro é extremamente meloso. É uma espécie de cantoria com jeito de criança do mais lamechas que há.
Mas atrevo-me a reconhecer que alguns dos melhores compositores de sempre são brasileiros, bem como algumas das letras de canções mais bem conseguidas de que há memória.
O brasileiro tem a capacidade de chorar tristeza como se fosse a maior alegria: um choradinho cantante. Tem a capacidade de pegar nas palavras mais simples e nas coisas mais corriqueiras e fazer delas uma grande canção – que é também, aliás, uma das características do fado.
E, acima de tudo, tem a particularidade que a língua portuguesa lhe dá de usar palavras ou (sobretudo, no caso dos brasileiros) expressões, únicas no mundo. Expressões que não são reproduzíveis em mais nenhuma língua (há sempre algo demasiado precioso que se perde na tradução). As grandes músicas do Brasil são poemas verdadeiramente apaixonantes.
Não tenho dúvidas que muitas das músicas do Brasil seriam melodias que apaixonariam e converteriam estes "resistentes", se interpretadas em línguas mais “familiares”, sendo que na “dobragem” se perderia o que de mais precioso a música brasileira tem.

Pensamento do Dia

As pessoas vêem aquilo que querem.

domingo, 19 de setembro de 2010

PI

Vou fundar um partido. Aceitam-se assinaturas!
Partido Inconformado!
Partido de quem acredita que se pode fazer sempre mais. Partido de quem acredita que nunca é demais lutar por um amanhã melhor. Partido de quem sente que vale sempre a pena. (Já dizia – e bem – Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”) Partido de quem não cruza os braços e finge que não vê. Partido de quem não se conforma que o mundo é assim e temos de o aceitar, sem fazermos um esforço por o tornarmos mais próximo daquilo que gostávamos que fosse. Partido de quem quer ter voz para defender a justiça, a igualdade, a liberdade, a tolerância, a coragem e a boa educação!
Neste partido aceitam-se todos.
Nós temos motivação. É-nos dada todos os dias pela nossa vida! Este partido propõe-se organizar todos os inconformados que vagueiam por este Portugal. Porque é de organização que precisamos. É por não termos organização que a nossa voz não é ouvida!
Juntos e organizados conseguiremos fazer valer a justiça neste país injusto. Conseguiremos fazer valer a nossa voz neste país mudo.
Contamos com todos!!!!!!! Portugal precisa de todos nós. Cada um de nós é imprescindível para que a mudança surja. “As formigas quando se juntam, conseguem derrubar um leão.”

Partido Inconformado – Jamais será travado!
Partido Inconformado – Jamais será lixado!
Partido Inconformado – Jamais será calado!


(De momento procuramos alguém para a Presidência da República. Aceitam-se candidaturas - de preferência de pessoas com menos de 40 anos, para refrescar a democracia.)

PS: Aos eventuais lobbys que possam estar a ler esta missiva a mensagem é esta: “Nós não nos vendemos! Vai comprar outro partido! Partido Inconformado – Jamais será comprado!”

Nota: escrito a quatro mãos numa tarde rica em trabalho criativo.

In The Mood For Love by Wong Kar Wai

Morder Como Quem Beija

"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"

Florbela Espanca (1894-1930)

L.O.V.E.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Hit the Road

A estrada é um lugar perigoso - o cinto de segurança já me deixou escapar incólume de certa -
e apesar de todo esse perigo - ou talvez pela iminência desse perigo - adoro conduzir. Adoro (como se diz) fazer-me à estrada. Não há nada mais relaxante do que pegar no volante e dirigir com a estrada livre à minha frente.
Gosto de viajar de carro. Gosto da liberdade que se tem quando se viaja de carro e se sabe que se pode parar onde e quando quisermos. Gosto de observar a paisagem à medida que decorre a viagem. Gosto de saber notícias do mundo através das familiares vozes que me acompanham diariamente mas cujos rostos nunca vi. Gosto de ouvir a música altíssimo como se só existisse eu e aquele ritmo frenético que me entra pelos ouvidos à velocidade com que passo pela estrada. Gosto da possibilidade de gravar um ou outro pensamento porque na impossibilidade de o escrever digo-o em voz alta. Gosto da dança de pensamentos que me assolam quando conduzo. Gosto da liberdade e do controlo… Gosto!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pérolas Encantadoras

Há cidades inesquecíveis. Já falei da minha preferida entre todas, no entanto, há outras que me fascinam e me encantam de forma muito especial.
A Europa é talvez o continente mais rico em cidadezinhas únicas na sua beleza histórica, em que a cada esquina há um novo mundo por descobrir.
De todas a que mais me encantou foi Viena com a sua elegância e sofisticação. Trata-se duma cidade absolutamente distinta. Possui amplas praças, recheadas de estátuas imponentes. É extremamente delicada, com toda a sua irrepreensível limpeza e civismo. Amei esta cidade! Se tivesse de escolher outra para ser o meu lar, provavelmente seria esta pérola.
Outra cidade completamente apaixonante e única é Veneza! Os seus canais enfeitados por gondôlas aliados ao particular encanto das cidades italianas - com a sua melodiosa linguagem, os seus irresistíveis gelados, as suas pastas divinais e a sensação que a cada passo estamos mais perto dum rico passado histórico – tornam esta cidade suprema. O admirável Rialto e a grandiosa Piazza di San Marco são - talvez - duas das visões mais lindas do mundo.
Não podia deixar de elogiar os canais de Veneza, sem mencionar outra cidade, assente em água, que me seduziu: Amsterdão. Esta cidade também é única por motivos bem diferentes. Dona duma beleza invulgar, não são os seus cenários que tanto cativam turistas, mas sim um ambiente livre e despido de complexos. Isto aliado a extrema simpatia dos locais torna esta cidade um lugar imperdível. Respira-se alegria, festa e desejo!
Outra cidade festiva que eu adoro é Sevilha! Aquela que é – para mim – a mais bela de Espanha. Seja a Catedral, seja a Torre, sejam os Palácios, esta cidade possui uma riqueza histórica extremamente importante na Ibérica. Foi palco de grandes acontecimentos e oferece um agradável e animado ambiente tipicamente andaluz. À sua beleza adiciona-se a excelente gastronomia da região.
Já que falamos em gastronomia tenho de voltar a Itália e a outra cidade que eu amo: Roma! Roma é das mais belas cidades que já vi. Rica historicamente, a cidade tem muito mais do que toda a beleza do centro dum grande Império.
And last but not least we have London! De todas a que mais me surpreendeu. Era daquelas cidades pelas quais não dava um tostão (vá-se lá saber porquê). Até que lá fui e fiquei siderada! A cidade é incrível! Em Londres respira-se história, arte, cultura, elegância, ciência e sentido de humor. A cidade oferece uma variedade de tudo. Anything you want you’ll find it in London. A Abadia de Westminster é o mais fascinante monumento religioso que já visitei e o British Museum tem uma colecção inigualável de tudo de todas as partes e épocas do mundo. Absolutely fabulous!
E termino assim o meu - ainda muito precoce e inacabado - colar de pérolas europeias.

I Hope You Understand

Principle 8: Part II

A felicidade depende de nós próprios. É uma escolha diária.

Eu Amo o Porto

Não é por ser a cidade onde eu nasci. Pronto! Pronto! Talvez seja um bocadinho por ser a cidade onde eu nasci: eu amo o Porto! Reconheço-lhe um encanto muito peculiar. Gosto desta cidade! Gosto da atmosfera da cidade. Gosto da altivez da Foz, da alegria colorida da Ribeira e do seu cubo futurista, dos cheiros a fruta e verduras do Bolhão, da imponência cinzenta dos Aliados (aliás gosto do nome Aliados por tudo o que simboliza e por ser único no país), das figuras exóticas que vivem no Jardim Botânico, das sombras frescas nos jardins do Palácio de Cristal ou Pavilhão Rosa Mota, do ambiente nocturno na Praça dos Leões e consequentes ruas, ruinhas e ruelas que se enchem de gente a cada novo anoitecer. Gosto da Sé, dos Clérigos, das pontes, da muralha Fernandina, da praça do Marquês, da marina e Palácio do Freixo… Gosto do Douro, este belo rio que banha a nossa cidade - que sobe ou desce ao sabor da chuva. Há duas coisas que não sendo do Porto, estão mesmo ao seu lado e tornam este lugar ainda mais especial: a admirável e apelativa costa de Vila Nova de Gaia com as suas intermináveis praias e a incomparável visão que se obtém da zona ribeirinha de Gaia, da qual se pode admirar o Porto no seu esplendor. Vila Nova de Gaia tem muitos outros encantos, mas creio que a maior riqueza de ambas as cidades é que se complementam.
Para além de toda esta beleza cénica, temos também outras maravilhas. A que mais me delicia tem nome de estrangeiro – mas é absolutamente irresistível: francesinha! Haverá algo mais gostoso do que deliciarmo-nos com uma apetecível francesinha? Parece que já estou a ver o molho a borbulhar, as batatas fritas quase imersas no molho, o queijo derretido a tapar completamente o pão espesso, uma garfada enorme com o apetite gigante na boca. Nham!!!
Este nosso Porto de abrigo encantador, deslumbra todos os que por aqui passam.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Faith is taking the first step even when you don't see the whole staircase." Martin Luther King

Principle 8: Life and The Pursuit of Happiness

Dos princípios básicos norte-americanos consta algo que considero excepcional: o alienável direito que cada cidadão tem to The Pursuit of Happiness.
De acordo com artigos científicos recentes, são de salientar alguns aspectos essenciais para atingir a tão desejada (e utópica?) felicidade.
Assim sendo, de acordo com os ditos, saliento o seguinte:

- Sentido de humor.
O humor ajuda a libertar do stress. A capacidade de rir-se de si próprio é libertadora. Não levar a vida demasiado a sério é uma atitude positiva e inteligente. O humor é capaz de curar.
Sempre achei incrível o poder de uma gargalhada e, se de facto, os estudos que têm vindo a ser realizados estão correctos, o sentido de humor é – talvez – o mais poderoso elixir de felicidade. Está provado que rir ou apenas sorrir provoca a libertação de endorfinas, também conhecidas por hormonas da felicidade, tornando – efectivamente - as pessoas mais felizes.
(Isto é uma descoberta magnífica! Ora então, se uma pessoa está triste, apenas tem de sorrir para afastar os sentimentos menos agradáveis. (Já dizia Walt Whitman: Alegria! Alegria! Alegria sempre!) Ou como defendeu Espinosa: o segredo para superar um determinado sentimento é interiorizarmos e/ou concentrarmo-nos no sentimento que se lhe opõe. Verdade ou não só mesmo experimentando e, se for, como quase tudo na vida, só ao fim de muito treino se atinge a perfeição.
E, para dar umas valentes gargalhadas ou esboçar um enorme e luminoso sorriso, nada melhor que uma boa comédia, uma música animada e rodearmo-nos de pessoas que se riem connosco dos tudos e nadas da vida.

- Praticar exercício físico.
Ora muito bem, a par dumas gargalhadas também o exercício físico ajuda a libertar as hormonas da felicidade (ou do prazer; isso agora depende do exercício).
Aparentemente rir parece mais fácil. E podemos fazê-lo em qualquer lugar.
No entanto, trabalhar os músculos e o ritmo cardíaco tem um efeito mais duradouro na garantia de felicidade.
Isto é mais um fantástica descoberta. Talvez os ginásios até possam usar esta base para angariarem mais pessoas. Aliás, essa poderia ser a derradeira campanha de marketing que faltava e a motivação para a inscrição no ginásio não passar do mês inicial - e mais meia dúzia de vezes só para dizer que se lá se põe os pés.
Bem, mas uma coisa que (a maioria) dos ginásios não têm e que - de acordo com os artigos científicos - é mais benéfico, é a realização duma actividade ao ar livre. O nosso pequeno país à beira-mar é rico em locais onde podemos dar uso a este conselho.

- Aprender a desligarmo-nos.
Ser felizes no dia-a-dia. A solução somos nós próprios e a atitude que escolhemos ter perante a vida. Cultivar pequenas actividades que nos dão prazer e ajudam a mente a espairecer.
Dito assim parece tão fácil. Porque será que naqueles dias cinzentos em que temos uma hidra a perseguir-nos (e de cada vez que lhe cortamos a cabeça, nascem duas no seu lugar) não parece ser tão acessível pôr este conselho em prática???
Há quem tente trabalhar numa magnífica descoberta que consiste num botão que se aloca à mente dum humano, através do qual ele liga ou desliga, ou seja, um interruptor no qual podemos estar WORRY/NO WORRY. Isso sim seria genial.
O aprender a desligarmo-nos pode passar por mantermos a mente distraída com inúmeras actividades: quanto mais ocupada estiver, menos pensará nos (pseudo) problemas e hidras que nos perseguem.

- Saber respirar.
Esta acho admirável. É algo que fazemos diariamente em cada momento, algo do qual estamos dependentes para viver, mas – aparentemente – a maioria de nós não sabe como respirar ou não sabe respirar correctamente ou, mais importante, não sabe usar a respiração em seu benefício para se acalmar em momentos de nervosismo ou pânico.
Antes de mais é necessário ter consciência de nós próprios, no nosso corpo e sentir a respiração. Depois é aprender a fazê-lo de forma suave e intensa, sentindo cada partícula de ar a entrar nos nossos pulmões e a percorrer o nosso sangue.
Da respiração à paz interior é apenas um pequeno passo - pelo menos é o que os especialistas dizem.

- Praticar meditação.
E esta é a minha preferida: controlar o pensamento de modo a que nos seja possível a total ausência de pensamento. Creio que de todas é a mais difícil de atingir. A que exige mais disciplina e árduo trabalho.
Entrar num estado de concentração e consciência tal que se consegue apagar todo e qualquer pensamento que assole a nossa mente. Estar consciente. Estar em paz.
Os cientistas dizem que meditar ajuda, simultaneamente, o descanso e a estimulação do cérebro.

Bem, e apresentados os principais métodos para atingir o alienável direito à felicidade, nada melhor do que meditar sobre o assunto e descobrir a melhor maneira de pôr cada um dos conselhos em prática.

Dedicated to the last days of Summer:

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Monteiro dos Milhões

Era uma vez um homem, nascido - em berço de ouro - a 27 de Novembro de 1848, no Rio de Janeiro. Chamava-se António Augusto Carvalho Monteiro e viria a ser apelidado de Monteiro dos Milhões e a dar origem a uma das mais emblemáticas obras de Portugal.
Os seus pais eram portugueses e possuíam uma enorme fortuna, proveniente do comércio de café e pedras preciosas.
Essa grande fortuna permitiu a Monteiro dos Milhões dedicar-se à sabedoria. Começou por embarcar para Portugal para estudar Direito na prestigiada Universidade de Coimbra. Licenciou-se em Leis, mas Monteiro era um homem de ciência.
Possuía uma das mais raras colecções camonianas, um amplo conhecimento de botânica e uma vasta colecção de borboletas. Sempre atento ao progresso, foi o primeiro homem a possuir electricidade em Sintra.
Dizem que era um homem de carácter, com a excentricidade que os Milhões lhe proporcionavam, da qual é exemplo o emblemático relógio Leroy 01.

O Relógio
Trata-se dum relógio projectado por Junod e executado por Charles Piquet, a pedido de Monteiro à casa relojoeira parisiense Leroy em 1897.
Este relógio foi considerado o mais complexo do mundo, arrebatando o Grande Prémio da Exposição Universal de Paris em 1900. Extremamente preciso para a época, o mecanismo de quatro níveis encontra-se fechado numa caixa de ouro onde figuram os signos do Zodíaco.
Esta obra-prima custou 20.000 francos e demorou quatro anos a ser executada.
O relógio foi transportado para Portugal pelo Rei D. Manuel II, também ele cliente da casa Leroy.
O desenho da caixa é de autoria dum dos mais talentosos e emblemáticos Arquitectos e Cenógrafos da época Luigi Manini (que viria a colaborar na elaboração da Quinta da Regaleira) e foi ciselado por Burdin.
A cidade de Besançon adquiriu o relógio aos herdeiros em 1955 pela prodigiosa quantia de 2.000.000 de francos.
Encontra-se actualmente exposto no Museu do Tempo em Besançon, constituindo uma das suas principais atracções.
Além dos mecanismos das horas, minutos e segundos, o Leroy 01 oferece ainda:
• 1 - dia da semana
• 2 - dia do mês
• 3 - calendário perpétuo dos meses e dos anos bissextos
• 4 - milésimo por cem anos
• 5 - fases da Lua
• 6 - estações do ano, solstícios e equinócios
• 7 - equação do tempo
• 8 - cronógrafo
• 9 - contador de minutos com retorno a zeros
• 10 - contador de horas
• 11 - mecanismo de mola
• 12 - toque regulável com som forte, médio e silencioso
• 13 - repetição da hora, dos quartos e dos minutos, com três timbres
• 14 - estado do céu no hemisfério boreal, no momento do dia, indicado pela data (o céu estando animado pelo movimento sideral, isto é, avançando 3 minutos e 56 segundos por dia sobre o tempo médio; a representação do céu e do horizonte de Paris, com 236 estrelas; a representação do céu e do horizonte de Lisboa, com 560 estrelas)
• 15 - estado do céu no hemisfério austral (no meio de um mecanismo de recarga que anima o céu por um movimento de rotação de oeste para este, a representação do céu e do horizonte do Rio de Janeiro, com 611 estrelas)
• 16 - hora de 125 cidades do mundo
• 17 - hora do nascer do sol em Lisboa
• 18 - hora do pôr do sol em Lisboa
• 19 - termómetro metálico centígrado
• 20 - higrómetro de cabelo
• 21 - barómetro
• 22 - altímetro para 5000 metros
• 23 - sistema de acerto do relógio sem o abrir
• 24 - bússola

Não podemos deixar de falar de Monteiro dos Milhões sem referir a Quinta da Regaleira. Situada no ambiente misterioso - e algo fantasmagórico - da Serra de Sintra, os jardins do Palácio da Quinta da Regaleira são uma biografia deste homem.

Quinta da Regaleira
Em 1697 José Leite era o proprietário da propriedade que hoje integra a Quinta.

A propriedade foi comprada por Francisco Albertino Guimarães de Castro em 1715.

Em 1830, na posse de Manuel Bernardo, a Quinta passa a ter a designação actual.

Em 1840 a Quinta foi adquirida por aquela que viria a ser agraciada com o título de Baronesa da Regaleira.
A Regaleira como hoje a conhecemos começa em 1892, ano em que a propriedade é adquirida pelo protagonista da nossa história. A maior parte da construção actual da quinta iniciou-se em 1904, sendo concluída em 1910.

Simbologia
O esoterismo místico judaico, com base na procura de Deus e na experiência da divindade, baseia-se na Lei das Correspondências que tem como objectivo encontrar – através do recurso à analogia – relações simbólicas entre o divino e o terreno, entre o visível e o invisível, entre o Homem e o Mundo.
A passagem de uma a outra dimensão é baseada em cerimónias de iniciação, através de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o neófito recebe o segredo da transmutação, aceita a filiação no grupo de companheiros e acede a um nível espiritual superior.
A Franco-Maçonaria antiga provém das confrarias ou corporações profissionais de pedreiros ou construtores das catedrais medievais. À defesa de interesses profissionais juntavam preocupações de carácter filantrópico, moral e religioso. Os grupos maçónicos organizados em sociedades secretas reuniam-se em lojas. Foram perdendo o carácter exclusivamente operativo e começaram a aceitar membros estranhos ao ofício, mas com os mesmos ideais iniciáticos.
O declínio das confrarias dá origem à Maçonaria Moderna, cujo aparecimento teve lugar em Inglaterra em 1717.
A Maçonaria provocou, praticamente desde o início, a oposição da Igreja Católica, embora muitos dos ensinamentos maçónicos, de inspiração cristã, preconizem a crença nas virtudes da caridade, na imortalidade da alma e na existência de um princípio espiritual superior denominado Grande Arquitecto do Universo.
Crê-se que Carvalho Monteiro acreditava na co-existência de ambas as fés, sendo que tal é bem patente, na Regaleira, sobretudo na Capela da Santíssima Trindade.
Grande parte da simbologia maçónica, sobretudo a dos altos graus, inspira-se em correntes esotéricas tais como a alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo.
Todos estes símbolos estão inscritos em diversos locais da Regaleira.
A Alquimia tem por objectivo a transformação (real ou simbólica) dos metais em ouro. As operações alquímicas são realizadas num Atanor, ou seja, num forno alquímico de combustão lenta, com um cadinho e um balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito. Assim, o propósito da Alquimia é a obtenção da Pedra Filosofal, simbiose entre matéria e espírito, da qual poderia resultar, além da transformação dos metais em ouro, a realização do desejo primordial da Humanidade: o elixir da vida, capaz de proporcionar saúde e eterna juventude. Por esta razão, há quem considere a procura alquímica como uma metáfora da condição humana: a salvação da alma. A Alquimia assumiu, depois do século XVIII, um carácter manifestamente religioso, dedicando-se sobretudo ao estudo das relações espirituais e energéticas entre o Homem (microcosmo) e o Universo (macrocosmo). Aceita-se que o Homem, simultaneamente, faz parte e se funde com o universo que o engloba.
O ambiente da Regaleira assenta num Cristianismo Escatológico: o fim dos tempos. Quer recorramos à lição da escatologia cósmica, que prenuncia o fim do universo e da humanidade, quer nos atenhamos à escatologia individual, que assenta na crença da sobrevivência da alma depois da morte, é a mesma ideia que permanece.

É também um Cristianismo gnóstico, apoiado em discursos míticos e em conhecimentos sagrados que prometem a salvação dos fiéis e o retorno dos espíritos.

Em suma, é um Cristianismo pleno de ideais neotemplárias, associadas ao Culto do Espírito Santo, que encontramos na tradição mítica portuguesa.
Os templários foram monges-soldados, cuja ordem militar, fundada no período das Cruzadas em 1119, visava proteger os lugares santos da Palestina contra o perigo dos infiéis. Os votos de pobreza e castidade não impediram os Cavaleiros da Milícia do Templo de enriquecer e de desempenhar um importante papel económico e político, tanto no Oriente como na Europa. Por esta razão, criaram poderosos inimigos, como o rei Filipe IV de França e o Papa Clemente V, que levaram à perseguição e à extinção da ordem em 1314, sob acusações de blasfémia e imoralidade.

Em 1317, D. Dinis de Portugal afectou os bens dos templários à Ordem de Cristo, que muitos aceitaram como sua sucessora.
Desaparecidos os templários não desapareceu o espírito, baseado na defesa dos lugares sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e organizações iniciáticas como sendo a afirmação simbólica da sobrevivência da Ordem do Templo. A cruz templária no fundo do Poço Iniciático, a cruz da Ordem de Cristo no pavimento da Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela da Santíssima Trindade, testemunham a influência do templarismo nos ideais de Carvalho Monteiro.
Há ainda, na Regaleira, referências ao movimento Rosa-Cruz. Trata-se duma corrente esotérica iniciada no séc. XVII, de tendência cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz. O movimento propunha reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade e a castidade, apelando à cura de todas as doenças do corpo e da alma. Tornou-se também grau maçónico de várias Ordens.

Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço grandioso, em que vivesse rodeado de todos os símbolos que espelhassem os seus interesses e ideologias. Quis dar vida ao glorioso passado de Portugal, daí a predominância do estilo neomanuelino com a sua ligação aos Descobrimentos. Esta evocação do passado passa também pela arte gótica e alguns elementos clássicos.

O bosque que ocupa a maioria do espaço da Quinta, não está disposto ao acaso. Começando mais ordenada e cuidada na parte mais baixa da quinta, mas, sendo progressivamente mais selvagem até chegarmos ao topo, esta disposição reflecte a crença no primitivismo de Carvalho Monteiro.

O Patamar dos Deuses é composto por nove estátuas dos deuses greco-romanos (Fortuna, Orfeu, Vénus, Flora, Ceres, Pã, Dionísio, Vulcano e Hermes), sendo que cada um representa cada uma das partes do ciclo da vida desde o início até ao final, num sucessivo ciclo. Existe também uma estátua dum Leão - que já existia aquando da aquisição da Quinta por Carvalho Monteiro - mas que foi relocalizado, como símbolo de protecção, representado assim o guardião de toda a Quinta.

O Poço Iniciático é constituído por uma galeria subterrânea com uma escadaria em espiral, sustentada por colunas esculpidas. A escadaria é constituída por nove patamares separados por lanços de quinze degraus cada um, invocando referências à Divina Comédia de Dante e que podem representar os nove círculos do Inferno, do Paraíso, ou do Purgatório. No fundo do poço está embutida em mármore, uma rosa dos ventos sobre uma cruz templária - que é o emblema de brasão de Carvalho Monteiro e, simultaneamente, indicativo da Ordem Rosa-cruz.

O poço diz-se Iniciático pois acredita-se que era usado em rituais de iniciação à maçonaria. A simbologia do local está relacionada com a crença que a terra é simultaneamente a Mãe dondo provém a vida e a sepultura, para onde se voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra, ou renascimento.
O poço está ligado por várias galerias ou túneis a outros pontos da Quinta, a Entrada dos Guardiães, o Lago da Cascata e o Poço Imperfeito. Estes túneis estão cobertos com pedra importada da orla marítima da região de Peniche, pedra que dá a impressão de um mundo submerso, um mundo infernal.

A Capela da Santíssima Trindade possui uma bela fachada baseada no revivalismo gótico e manuelino. Nela estão representados Santa Teresa d'Ávila e Santo António. No meio, por cima da entrada está representado o Mistério da Anunciação (o anjo Gabriel dizendo a Maria que ela vai ter um filho do Senhor) e Deus Pai entronizado.
No interior: no altar-mor vê-se Jesus, depois de ressuscitar, a coroar uma mulher que pode ser Maria ou Madalena. Do lado direito novamente Santa Teresa e Santo António, desta vez em painéis de mosaico. Do lado oposto um vitral com a representação do milagre de Nossa Senhora da Nazaré. No chão estão representados o Globo Celeste e a Cruz da Ordem de Cristo, rodeados de estrelas de cinco pontas.


A Torre da Regaleira foi construída para dar a quem a sobe a ilusão de se encontrar no eixo do mundo.


O edifício principal da Quinta propriamente dita ou Palácio é marcado pela presença de uma torre octogonal. A decoração esteve a cargo do escultor José da Fonseca.
Em toda a arquitectura do local está patente o perfeccionismo e trabalho árduo de Manini.

O Túmulo
Monteiro dos Milhões mandou também construir o seu túmulo a Manini.

O seu jazigo (situado no Cemitério dos Prazeres) – tal como a Quinta da Regaleira - está imerso em simbologia.

A porta do jazigo era aberta com a mesma chave que abria a Quinta da Regaleira e o seu palácio em Lisboa (situado na Rua do Alecrim).
O jazigo está localizado do lado esquerdo na alameda de quem entra no Cemitério, ocupando uma área com o lugar, o tamanho e a forma do secretário num templo maçónico, referenciando a igreja como oriente.
A porta do jazigo possui uma abelha gravada na aldraba, carregando uma caveira.
Diz quem sabe que: a abelha - organizada e empenhada – representa a disciplina do maçom.
O gradeamento, das traseiras do jazigo, ostenta a simbologia do vinho e do pão, o espírito e o corpo.

Corujas e papoilas dormideiras ornamentam o jazigo – simbolizando a sabedoria e a morte.

A sua jornada terminou a 24 de Outubro de 1920 em Sintra.
Em 1942 a Quinta foi vendida a Waldemar d’Orey que, sem alterar de modo relevante o que já tinha sido realizado, procedeu a obras para adaptar a Quinta, de modo a acolher a sua enorme família.

Em 1987 a Quinta da Regaleira é vendida à empresa japonesa Aoki Corporation, deixando de ser utilizada como habitação, mas permanecendo cerrada ao público.
Finalmente, em 1997 a Quinta da Regaleira é adquirida pela Câmara Municipal de Sintra, sendo iniciados trabalhos de recuperação deste valioso património.
Actualmente, a Quinta da Regaleira - enquadrada no mágico cenário da Serra de Sintra - está aberta ao público, sendo anfitriã de variadas actividades culturais e testemunho da vida duma lenda verdadeiramente inspiradora.



Nota: Este post é baseado em diversos artigos associados ao tema, bem como na visita guiada à Quinta da Regaleira.