sábado, 26 de fevereiro de 2011

Diário de Bordo


Praia do Portinho

Aquele Sotaquezinho

É verdade: sou do norte, mais concretamente do Porto, mas quem falar comigo durante uns minutos descobre logo, porque aquele sotaquezinho é inigualável.
De norte a sul do país, passando pelas nossas belas pérolas do Atlântico, cada terra do nosso Portugal tem um sotaque muito próprio. Mas, de facto, nenhum se compara à pronúncia vincada do Porto.
Este sotaque para além de único e inestimável, é admirado por gentes de todo esse recanto estendido á beira-mar.
Acho incrível que possam aparecer as mais diversificadas pronúncias, mas a nossa é a única que gentes muito tentam, mas não conseguem imitar. É hilariante escutar seres desesperados na busca da imitação do som certo. Ninguém consegue: só os genuínos.
Parabéns a nós, gente da terra que dá nome a PORTugal, por este sotaquezinho imbatível!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Unless I Close My Eyes

Diário de Bordo

O Riso De Deus

Há livros assim: que nos apaixonam, do início ao fim; que nos enternecem; que nos deixam obcecados pela sua leitura, esquecendo todo o mundo em redor.
António Alçada Baptista: nunca tinha lido e, quando me emprestaram este livro, achei piada ao título, mas não fazia ideia ao que ia.
Baptista leva-nos pela mão a um universo de descoberta, a jornada dum homem pelo mundo exterior e interior. Uma jornada com a qual nos vamos comovendo a cada palavra do autor, por nos ser tão próxima, tão familiar; todo aquele universo de dúvidas, contradições, culpas, descobertas: é a jornada do ser humano. As suas preocupações e aspirações são tão bem retratadas que nos embrenhamos mais e mais e mais no livro, como se a sua leitura fosse um imperativo pessoal.
De todos os livros que me passaram pelos olhos, este foi um dos que li com mais obsessão; queria devorá-lo sofregamente, porque a cada nova página um mundo de auto-reflexão abria-se.
Recomendo vivamente a leitura de O Riso De Deus a todos os que não resistem a um livro apaixonante que nos leve a questionar a maneira como vemos o mundo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Almodovar

Talvez um dos mais brilhantes realizadores de sempre: Pedro Almodovar, tem um universo muito próprio, carregado de fragilidades e cruezas humanas.
Nunca um homem revelou tão bem o universo feminino nas suas angústias, alegrias e medos, desde Mujeres Al Borde De Un Ataque De Nervios, passando por La Flor Del Mi Secreto até nomes como Tudo Sobre Mi Madre ou Volver; sem esquecer quando esse universo encontra, choca e se funde com o universo masculino como em Habla Com Ella ou Carne Tremula. Ou ainda quando é o universo masculino e as suas dicotomias que assumem o protagonismo como em La Mala Educacion ou Los Abrazos Rotos. Qualquer um destes filmes é brilhante e enternecedor. E estes são apenas alguns dos mais recentes ou mais conhecidos deste Mestre do cinema do grotesco, dos sentimentos, das sensações, do mundo de emoções, que se entrega ao espectador a cada imagem.
Qualquer um dos títulos que menciono tocou-me de maneiras diversas.
La Mala Educacion é genial na sua forma de dar a volta ao filme e ao espectador, surpreendendo a cada cena.
Volver é magnífico sobretudo nas actrizes que o compõem. Tem rasgos de humor acutilantes, desdramatizando os acontecimentos que atravessam esta família de mulheres fortes e corajosas.
Tudo Sobre Mi Madre é mais um belíssimo trabalho de actrizes, que compõem esta história triste e tocante que acompanhamos sofregamente a cada passo, tendo este filme dado o Óscar ao realizador.
Carne Tremula foi o primeiro que me deslumbrou. Uma apaixonante história à qual ficamos presos desde a primeira cena do filme, com imagens belíssimas e marcantes.
Mas, foi sobretudo, o delicado e trágico Los Abrazos Rotos que me ficou. A história que o filme nos traz é doce e amarga, como a vida.

Run Free

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Diário de Bordo

O Magnetismo do Cinema

A minha grande paixão (desde que me lembro) mantém-se inalterada: a sétima arte.
Ainda me lembro do primeiro filme que vi no cinema. Tenho uma das imagens bem vividas na minha mente: o Tio Patinhas a atirar-se para a sua piscina de cifrões e a nadar no meio do dinheiro. Lembro-me como se fosse ontem. Não me lembro de chorar, quando as luzes se apagaram e ficou tudo às escuras, no momento imediato antes do filme iniciar, conforme os meus pais contam. Mas, também segundo eles, esse chorinho só durou até o ecrã se acender. Foi amor à primeira vista, literalmente. E, a partir daí, nasceu uma paixão que não termina mais.
Devo-a em grande parte aos meus pais, que sempre tiveram o culto do cinema e levavam-me com frequência às salas negras de tela mágica que o Porto tinha: Nun’Álvares, Trindade, Terço, Sala Bebé, entre outros.
Tenho saudades de ir ao cinema, apenas pelo cinema. Tenho saudades de me dirigir até um edifício que é o cinema e não o shopping. Uma experiência que talvez possa realizar novamente, por cá. Obviamente que adoro a oferta cinematográfica que os shoppings permitem, gosto do conforto das salas e da qualidade com que se consegue desfrutar da película. Mais n’est-ce pás la même chose.
A mais completa das artes merece ovações, merece as melhores obras arquitectónicas para a albergar, merece uma casa de espectáculos à altura da sua grandeza.
Tenho saudades de ir ao cinema, de entrar na sala escura (mesmo que seja a do shopping) e de aguardar que o filme se estenda à minha frente, revelando-se a cada segundo. Sim: já não vou há um mês, o que para mim é uma eternidade.
É mágico entrar numa sala e viajar. Viajamos no tempo; viajamos por locais desconhecidos; viajamos por locais inventados; com as mais diversas personagens e seres; com pessoas que fizeram história: é magnífico. Depois daqueles deliciosos minutos é como se regressámos dum universo paralelo.
É indescritível este efeito magnético que o cinema tem em mim: prende-me cada vez mais em cada rendez-vous.

Upside Down

Diário de Bordo

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Diário de Bordo

É incrível como por cá tudo falha, justamente no momento em que mais precisamos. A internet é o melhor exemplo disso. Pode estar disponível durante a maior parte do tempo em que não estamos livres para a agarrar e, quando finalmente, a vamos usar ela escapa-se.
Chega até a ser ridículo e frustrante. Parece um jogo de caçadinhas: a caça à net.
Mas mais vale aceitar. Quanto mais depressa se aceitar a inevitabilidade da net nunca estar lá quando se precisa, menos valor daremos a esse facto e mais treinada vai ficando a paciência.
A internet espelha bem uma cultura em que raras vezes se ouve um "não" ou um "não sei". Até se perceber que afinal… nem tudo é o que parece.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Diário de Bordo

Diário de Bordo

Diário de Bordo

Diário de Bordo

E eis que chega aquele momento que se sabe que irá chegar: as saudades.
Saudades da minha cidade com o seu casario colorido e aquela água que começa na serra e termina no mar, atravessada por barcos e pontes.
Saudades da família, aquelas pessoas que estão sempre lá e nos acompanham na nossa longa caminhada, onde quer que estejamos.
Saudades da comida da mamã (especialmente aquela sopa maravilhosa e as sobremesas de comer e chorar por mais).
Saudades do cinema, de entrar numa sala enorme com um ecrã gigante e esperar pacientemente o momento em que as luzes se apagam para nos mostrarem as promessas cinematográficas dos próximos tempos e a fita que escolhemos de entre variadíssimas possibilidades à escolha.
Saudades dos amigos, das conversas intermináveis, dos convívios, das risadas, daquela cumplicidade que só a amizade consegue trazer.
Quase que até se sente saudades da chuva forte a cair nos pés e do frio intenso a afagar o rosto. Quase!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Saudade?

"É linda esta cidade vista dos telhados
Com ruas escuras e esguias.
É linda vista do outro lado do rio
Com cores quentes a enfeitar o casario.
Pontes e barcos acompanham o percurso
Até ao mar, que espelha a sua alma
De gente desenvolta e sincera,
Gente lutadora e afável
De sotaque vincado,
Amante de petiscos bem regados:
De francesinhas a sardinhadas;
Onde as festas populares convergem
E as tradições navegam;
Onde o estudante é o poeta negro
Que ilumina a cidade nas noites de queima;
Onde a natureza tem lugar cativo
Em que a serra e a praia convivem.
É lindo este Porto onde sabe tão bem atracar."

Diário de Bordo

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fundo do Mar

"No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso."

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)