domingo, 31 de julho de 2011

The Thin Red Line

Sons e imagens dum dos mais belos poemas de sempre:

"I seen another world. Sometimes I think it was just my imagination."

The Tree Of Life

Terrence Mallick traz-nos mais uma belíssima obra-prima com o seu Tree Of Life.
Esta película, à semelhança de The Thin Red Line ou The New World, trata-se dum poema visível e audível.
No entanto, nesta obra Mallick vai mais longe e a linha de seguimento é praticamente inexistente, alternando uma história específica com imagens de infinita beleza que nos levam ao questionamento do nosso próprio percurso, do sentido do todo, da casualidade do mundo e do poder da natureza.
A luz que nos guia e que existe em cada um de nós é também ela um reflexo da fugacidade de tudo, que o Homem, como ser pensante, tem dificuldade em aceitar - recusa essa certeza, inerente à sua natureza. A permanência é quase uma necessidade intrínseca da condição humana. E a libertação é alcançada pela aceitação da árvore da vida.

I Wanna Race With The Sundown


"I wanna shake, i wanna wind out
I wanna leave this mind and shout
I've lived all this life
Like an ocean in disguise
I don't live forever
You can't keep me here...
I wanna race with the sundown
I want a last breath that i don't let out
Forgive every being
The bad feelings, it's just me
I won't wait for answers
You can't keep me here...
I wanna rise and say a-goodnight
I wanna take a look on the other side
I've lived all these lives
It's been wonderful at night
I will live forever
You can't keep me here..."

Expectativas?

Tenho a dizer que a minha queridíssima cidade está cada vez mais dinâmica. A noite do Porto está cada vez mais viva, desde os concertos ao ar livre no Palácio de Cristal (dos quais tive o prazer de ver Aurea esta noite) passando pelas sessões de cinema fora de sítio, mais um sem número de bares, iniciativas acontecimentos e, acima de tudo, muita gente.
Tanta oferta cultural, aliada ao frenesim de convívios a pôr em dia, não me tem permitido dedicar-me à leitura de informações sobre cada um dos locais a visitar como gostaria.
Por outro lado, o parco ou ausente conhecimento dos locais, permite que não sejam criadas ideias pré-concebidas dos mesmos. Ideias essas que vêm - indubitavelmente - acompanhadas de expectativas.
Considerando que sempre quis fazer esta viagem, não se pode dizer que não pensei nos locais, nas pessoas, nos sabores, nos cheiros, nas paisagens, em tudo o que vou encontrar. No entanto, a panóplia de acontecimentos que tem vindo a tomar lugar é impeditiva de deixar a mente divagar demasiado ou de investigar um pouco mais sobre os locais.
A vontade de ir é imensa, mas as mil sensações que me assaltam, derivadas das vivências mais recentes, nem me têm deixado pensar que é uma realidade que em menos de cinco dias estarei do outro lado do mundo. Parece algo longínquo e um pouco surreal e nem mesmo a início do aconchegamento da mochila me conseguiu convencer.

sábado, 30 de julho de 2011

E agora: o que levar?

Tendo em conta que vamos andar um mês de mochila às costas por países culturalmente diferentes do nosso, é necessário reunir uma lista do que se vai levar.
A ideia é levar o mínimo indispensável, mas considerar que poderemos não ter a facilidade que temos cá em encontrar determinadas coisas.
Assim na lista estão os seguintes artigos:
- Protector solar (fundamental!);
- Palhinhas (é sempre mais seguro);
- Papel higiénico (mais vale prevenir…);
- Roupa leve e confortável (dois pares de calças/calção e tops);
- Sapatilhas e havaianas;
- Bikinis (claro; não podemos deixar de nos banhar no Pacífico);
- Gel desinfectante para mãos;
- Casaco;
- Écharpe (para nos prevenirmos quando tivermos de esconder ombros ou cabeça);
- Toalha;
- Chapéu;
- Óculos de sol;
- Escova de dentes e mini pasta dentífrica;
- Repelente de insectos;
- Comprimidos de enjoo;
- Máquina fotográfica (pequena, leve, resistente e versátil);
- Bloco de notas, para registar as palavras que nos assaltam ao contemplar a paisagem.
Estes são os objectos que nos garantem um mínimo de à vontade e segurança (para além da hidratação: creme de rosto e olhos e, claro, um bom batom).

Vistos e Vacinas

Depois dos voos (ou a par dos mesmos) outro assunto fundamental são os vistos.

Índia:
- Preço: 52€;
- Para além do preenchimento do formulário é necessário fornecer duas fotografias.
O visto é obtido na Embaixada da Índia em Lisboa e demora cerca de 3 a 5 dias úteis.

Tailândia:
- Não é necessário visto quando a estadia no país não excede os 30 dias.

Cambodja:
- Preço: 50€.
Vietname:
- Preço: 97€.
Estes dois vistos são obtidos fora de Portugal, tipicamente através de agências. Após falarmos com pessoas que já haviam viajado pela Ásia, optámos por tratar destes vistos quando chegarmos à Tailândia.

Quanto a vacinas:
Para entrar na Índia é necessário ter a vacina da febre amarela em dia.
Para o Cambodja é recomendável prevenir malária e cólera.
Para o Vietname é recomendável prevenção contra tétano, difteria, febre tifóide e hepatites A e B.

Voos

Pesquisar voos e conjugar preço com escalas não é nada fácil. Após uma intensa pesquisa decidiu-se contactar uma agência, que nos forneceu um excelente itinerário a um preço consideravelmente mais baixo do que estávamos a conseguir nos sites.
Para além disso, as transportadoras aéreas que a agência nos proporciona são mais fidedignas do que as que havíamos pesquisado.

Viagem de Sonho

Depois da minha primeira grande viagem de sonho (Egipto) eis que se segue a minha outra grande viagem de sonho: Ásia.
Desde pequenina que sonhei com faraós, pirâmides, rainhas de olhos de negro e templos apoteóticos. A par desse sonho aparecia também um sonho de construções colossais adornadas por caracteres estranhos, terras de histórias místicas, ruas pululadas de gente, aromas intensos no ar e paisagens cortantes.
Chegou, finalmente, o momento de dar vida a esse outro sonho, de conhecer as terras do oriente.
Infelizmente, por falta de duas coisas das quais somos escravos hoje (tempo e dinheiro) a viagem será de apenas um mês e os países escolhidos serão apenas quatro: Índia, Tailândia, Cambodja e Vietname.
Lançados os pontos desta fascinante viagem, há um longo caminho a percorrer.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Les Pas


Les feuilles ne sont pas morts, elles sont endormis.
Un jour elles vont libérer le monde.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Parabéns Pearl!

Este Verão está recheado de boas notícias musicais: primeiro o novo álbum de Chico e agora um documentário sobre aquela que é uma das maiores bandas de todos os tempos (e aquela pela qual tenho mais carinho): Pearl Jam.
Na comemoração dos 20 anos de lançamento do álbum Ten, surge um documentário sobre a banda.
Pelo trailer:
http://aeiou.expresso.pt/documentario-sobre-pearl-jam-trailer=f664540
promete.
Para além disso é realizado por Cameron Crowe um realizador que está à vontade no mundo da música, tendo começado o seu percurso como jornalista da revista Rolling Stone, vivência essa que inspirou um dos seus melhores filmes: Almost Famous (brevemente um pequeno comentário a esta obra-prima), um belíssimo retrato do universo musical duma geração.
Mais informações relativas à estreia:
http://hitnarede.com/2011/07/pearl-jam-twenty-assista-ao-trailer-oficial-do-filme-documentario-em-comemoracao-aos-20-anos-da-banda/
Mal posso esperar!!!
Will the waiting drive me mad? ;)

The Long Road

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pensamento do Dia

"Perché tutto rimanga com'è che bisogna che tutto cambi." 
Falconeri - Il Gattopardo - Giuseppe Tomasi di Lampedusa

sábado, 23 de julho de 2011

Silêncios e Espantos

"Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Morei numa casa velha,
À qual quis como se fora
Feita para eu Morar nela...
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- Quis-lhe bem como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego.
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De montes e de oliveiras
Ao vento suão queimada
( Lá vem o vento suão!,
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão...)
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem fôr,
Na tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela,
Tinha, então,
Por única diversão,
Uma pequena varanda
Diante de uma janela
Toda aberta ao sol que abrasa,
Ao frio que tosse e gela
E ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda
Derredor da minha casa,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos e sobreiros
Era uma bela varanda,
Naquela bela janela!
Serras deitadas nas nuvens,
Vagas e azuis da distância,
Azuis, cinzentas, lilases,
Já roxas quando mais perto,
Campos verdes e Amarelos,
Salpicados de Oliveiras,
E que o frio, ao vir, despia,
Rasava, unia
Num mesmo ar de deserto
Ou de longínquas geleiras,
Céus que lá em cima, estrelados,
Boiando em lua, ou fechados
Nos seus turbilhões de trevas,
Pareciam engolir-me
Quando, fitando-os suspenso
Daquele silêncio imenso,
Sentia o chão a fugir-me,
- Se abriam diante dela
Daquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Na casa em que morei, velha,
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
À qual quis como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego...
Ora agora,
?Que havia o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Que havia o vento suão
De se lembrar de fazer?
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
?Que havia o vento suão
De fazer,
Senão trazer
Àquela
Minha
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
O documento maior
De que Deus
É protector
Dos seus
Que mais faz sofrer?
Lá num craveiro, que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Poisou qualquer sementinha
Que o vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Achara no ar perdida,
Errando entre terra e céus...,

E, louvado seja Deus!,
Eis que uma folha miudinha
Rompeu, cresceu, recortada,
Furando a cepa cansada
Que dava cravos sem vida
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
Á qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...
?Como é que o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Me trouxe a mim essa esmola,
Esse pedido de paz
Dum Deus que fere ... e consola
Com o próprio mal que faz?
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for
Me davam então tal vida
Em Portalegre; cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Me davam então tal vida
- Não vivida!, sim morrida
No tédio e no desespero,
No espanto e na solidão,
Que a corda dos derradeiros
Desejos dos desgraçados
Por noites do tal suão
Já varias vezes tentara
Meus dedos verdes suados...
Senão quando o amor de Deus
Ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Confia uma sementinha
Perdida entre terra e céus,
E o vento a trás à varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tôsca e bela
À qual quis como se fôra
Feita para eu morar nela!
Lá no craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Nasceu essa acáciazinha
Que depois foi transplantada
E cresceu; dom do meu Deus!,
Aos pés lá da estranha casa
Do largo do cemitério,
Frente aos ciprestes que em frente
Mostram os céus,
Como dedos apontados
De gigantes enterrados...
Quem desespera dos homens,
Se a alma lhe não secou,
A tudo transfere a esperança
Que a humanidade frustrou:
E é capaz de amar as plantas,
De esperar nos animais,
De humanizar coisas brutas,
E ter criancices tais,
Tais e tantas!,
Que será bom ter pudor
De as contar seja a quem for!
O amor, a amizade, e quantos
Mais sonhos de oiro eu sonhara,
Bens deste mundo!, que o mundo
Me levara,
De tal maneira me tinham,
Ao fugir-me,
Deixando só, nulo, vácuos,
A mim que tanto esperava
Ser fiel,
E forte,
E firme,
Que não era mais que morte
A vida que então vivia,
Auto-cadáver...
E era então que sucedia
Que em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Aos pés lá da casa velha
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casa que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- A minha acácia crescia.
Vento suão!, obrigado...
Pela doce companhia
Que em teu hálito empestado
Sem eu sonhar, me chegara!
E a cada raminho novo
Que a tenra acácia deitava,
Será loucura!..., mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema,
Ou se um filho me nascera."
José Régio

Pensamento do Dia

"Sê dono apenas do que podes transportar contigo; conhece línguas, conhece países, conhece pessoas. Deixa que a tua memória seja o teu saco de viagem."
Alexander Soljenitsin (1918 - 2008)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Home Is Where The Heart Is"

Voltar é sempre estranho, conforme tentei descrever no post anterior.
Ao fim de quase uma semana, a pessoa começa a habituar-se a tudo o que é simultaneamente novo e familiar, o que nos dá a certeza absoluta de que o ser humano é uma espécie de hábitos e rotinas. Tudo é uma questão de habituação. E tudo são fases na vida, porque o mundo (e nós próprios com ele) estamos em constante mutação.
Todas essas fases são apenas estados pelos quais vamos passando e assim vivemos neste incessante ciclo a que se chama vida. A aceitação deste facto é o caminho para a paz interior.
Voltar a casa é um misto de sensações, é o fim dum ciclo, é um novo começo, é um momento de reflexão, onde nos debruçamos sobre a pessoa que éramos quando partimos e a pessoa que somos ao voltar. Essa reflexão é consequência do convívio com as pessoas, sobretudo numa experiência deste tipo em que voltamos a conviver com pessoas que nos eram ou que nos são tão próximas e que nos acompanham ou acompanharam à sua própria maneira ao longo dos meses de ausência.
É no convívio com os outros que encontramos uma parte de nós. E é no convívio connosco próprios que encontramos a outra.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Regresso

Quando embarquei nesta experiência não sabia o que me esperava.
Depois da primeira semana em Cabo Verde nunca pensei que me custasse tanto regressar à tugalândia.
Sinto agora falta daquilo a que chamava poluição sonora. Por cá, o silêncio apodera-se de tudo. Não se ouvem discotecas ambulantes a passar, nem alarmes a disparar, nem carros a buzinar, nem crianças a gritar, nem pessoas a falar.
Despertar na escuridão, sem a força da luz matinal a entrar pela janela foi estranho.
Para me receber o meu querido Porto brindou-me com a sua adorável chuvinha. Não posso dizer que tenha ficado triste (visto que já não via chover há seis meses) e este tempo ajudou a sentir-me em casa (pois esteve assim nos dias antes da partida).
O calor também parece ter ficado por lá. Para além da chuva, está invulgarmente frio para a época, sobretudo à noite (voltar a dormir de cobertor é esquisito).
E, acima de tudo, a luz é diferente. Independentemente da chuva (ontem o tempo estava melhorzinho), a luz daqui é mais baça, mais sombria, menos intensa, menos gloriosa.
Apesar de tudo, é uma sensação agridoce: também é bom estar de volta.
A nostalgia esvair-se-á lentamente com novos projectos, novas vivências, novo movimento e, com a certeza, de que há coisas que ficam. 

sábado, 16 de julho de 2011

Adeus Cabo Verde


É mais doloroso do que imaginava deixar o sítio a que se chamou lar durante seis meses.
Até sempre!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Saudade!

As ilhas são lugares ingratos.
Lugares de passagem para muitos e de permanência para uma minoria que observa o mundo a chegar e a partir continuamente nas suas fronteiras oceânicas e celestes.
Cabo Verde tem esse sentimento de saudade em comum com milhares de outras ilhas espalhadas pelo mundo e, em particular, com as também vulcânicas ilhas dos Açores.
Uma terra de alegria, descontracção e, acima de tudo, música.
Uma terra de ritmos e melodias que parecem expressar tão bem aquilo que não se consegue dizer por palavras. Mornas e coladeiras visitarão para sempre o imaginário de quem passa por esta terra.
Tudo o que deixamos para trás, permanecerá cá dentro com enorme carinho: a irmandade da tartaruga, as banquinhas do sucupira, o bolo de banana da Chantelle, as noites dançantes no Fogo D’África, os serões musicais no 5al da Música, a simpatia da D. Antónia, a delicadeza da D. Alia, o exotismo do restaurante indiano, o gratinado de peixe do Mediterrâneo, os gelados do Ártica, o charme do Kapa, as tardes de domingo com música ao vivo no Kebra, as horas de almoço na piscina, os mergulhos no mar, as viagens pelo interior de Santiago, as idas ao Tarrafal, as intermináveis praias da Boa Vista, os deslumbrantes vales de Santo Antão, a singularidade de S. Vicente, o cheiro e sabores do Fogo, o céu repleto de estrelas tão próximas, o som do mar da esplanada do bar do hotel, a aridez da terra e o seu cheiro forte, penetrante, intenso.
Um misto de vontade de regressar e vontade de ficar.
Quem traz a música consigo, traz tudo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pensamento do Dia

"I guess in the end you start thinking about the beginning."
John Smith (Brad Pitt) - Mr. and Mrs. Smith

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Prova de Fogo

Nunca compreendi a paixão de muitas pessoas por escalada e/ou duras provas de esforço.
Adoro caminhadas em pisos planos e trilhos relativamente bem definidos. Escalada: nem por isso.
Bom, decidi um pouco inconscientemente (ou devo dizer conscientemente, uma vez que o cérebro não se decidia, mas a intuição dizia para não ir e o primeiro acabou por escolher) subir o trilho por onde muitos haviam passado e falavam maravilhas dessa experiência.
Devo referir que quando cheguei às ilhas tinha uma enorme vontade desta experiência, mas depois de me informar e ver as fotos dos primeiros exploradores do grupo, a vontade caiu por terra. E não voltou. Não voltou até que duas pessoas com quem me dou bastante bem me convenceram mais pela companhia do que pela experiência a enveredar por este desafio.
A ilha é bonita na sua simplicidade e exotismo. A capital faz lembrar as antigas vilas portuguesas e cada casinha tem uma colorida e calorosa fachada. Existem algumas praças agradáveis com banquinhos, alguma vegetação e vestígios do que teriam sido fontes, mas são agora apenas pequenos blocos de pedra que a água não abraça (não é estranho, uma vez que a falta de água é uma constante neste pequeno cantinho árido). Uma praia de areias negras é banhada pelo melancólico balanço do mar (que dizem ser bravo, por aqui). E, de lá, avista-se o que parece ser uma montanha a nascer do seio dessa bravura, com a nuvem suspensa que a adorna.
Prosseguimos para o interior.
A paisagem é semelhante à de outras ilhas. A aridez enfeitada por árvores esporádicas que parecem resistir às condições mais adversas. Ao chegar ao desejado lugar, o que os olhos vêem é um cenário único. A terra parece ter-se vestido de negro. Uns cumes aqui e ali e alguns pontos de pedra a rodear a paisagem. E um majestoso cone na sua escuridão impõe-se: a cratera dentro da cratera. Esta visão parece saída dum outro planeta.
Ao anoitecer o cenário é ainda mais apocalíptico. Pareceria mesmo que estaríamos na lua com um céu definido e as estrelas tão próximas, não fosse ela nessa noite brilhar num delicioso quarto minguante, iluminando aquelas casinhas e caminhos de pedra.
O serão dessa noite foi breve. Pelas 21h já estávamos recolhidos (para além da electricidade ser contada e poupada até ao limite), no dia seguinte acordávamos ainda antes do sol, para a longa caminhada que nos aguardava.
Bom, chegado o tão ansiado e temido momento, lá nos largamos pelo sinuoso caminho de pedra até ao cume. Esta parte muitos não a referem, mas na realidade o caminho até ao cume é de cerca de uma hora, caminho esse que terá de ser percorrido novamente no regresso.
Apenas após este período se inicia a subida. A tão famosa subida é mais uma escalada do que propriamente uma caminhada, nomeadamente nos metros finais (que mais parecem intermináveis quilómetros).
Sim: eu pensei eu desistir. Acho que todos pensam. Inicialmente ainda cá em baixo quando seria mais fácil voltar atrás e, depois, já nesses metros finais: os sempre quase, quase a chegar à cratera. Posso dizer que devo ao guia ter continuado, sobretudo no momento em que ele me informou que desceríamos por esse mesmo trilho e parecíamos estar tão perto e simultaneamente tão longe do final dessa dura prova de esforço em que estávamos metidos.
Estava triste, fatigada, desanimada. O cansaço apoderou-se de mim de forma violenta. Questionei-me o que me havia trazido até ali, percorrer algo que não queria percorrer, fazer algo que na realidade não queria ardentemente fazer. Seriam as pessoas exteriores? Porque todos o fizeram e acharam bestial, também fazemos o mesmo, como se essa fosse também a nossa vontade? Seria a sensação de fazer parte do grupo dos que conseguiram? É assim tão necessária a aprovação dos outros? Ou a nossa própria aprovação depende do reflexo dos outros? Quantas vezes cedemos a pequenos caprichos que julgamos ser nossos, quando na realidade não o são?
Nota pessoal 1: não ceder a pressões exteriores.
Deveria ter escutado a minha intuição.
Nota pessoal 2: quando a razão está em dúvida, escutar aquele sexto sentido que temos cá dentro é, sem dúvida, a melhor opção.
Embora o cenário durante a escalada seja interessante: as nuvens debaixo dos nossos pés, as íngremes pedras que vamos percorrendo, a nossa sombra reflectida na negrura; estava tão fatigada, tão sem fôlego, tão fisicamente estafada que nem conseguia desfrutar devidamente cada pormenor.
Quando finalmente atingimos o topo (e o cheiro a enxofre atingiu o seu máximo), tal como esperava, todo aquele esforço hercúleo não foi, a meu ver, compensador. A paisagem é bonita, mas não deslumbrante: não corta a respiração (já de si cortada da subida).
As nuvens pareciam nascer da base e, embora dessem um ar feérico ao todo, impediam de ver aquilo que a meu ver talvez pudesse ser compensador: o mar – sempre o mar. Em todo o seu esplendor e a banhar cada curva da ilha.
Até hoje vi apenas três paisagens que valem, para mim, um esforço desta natureza (acho que ainda não viajei o suficiente – e haverá tal coisa como viajar o suficiente?). Embora nenhuma das três seja um cenário totalmente natural (excepção para a passagem aérea sobre o Grand Canyon que pela amostra será uma de muitas belezas naturais que valem essa escalada), são um deslumbramento pelo enquadramento, magia e perfeita harmonia. O trio pelo qual perderia o fôlego para os olhos se banquetearem novamente com festins assim são: as sinuosas e recônditas ruas e canais venezianos, a Baía da Guanabara vista do Cristo Rei e, claro, Abu-Simbel.
Assim, e contrariamente ao que todos disseram, não acho que valha a pena um esforço sobre-humano para a contemplação deste cenário.
Ao observar o interior dessa segunda cratera e todos os nomes deixados por viajantes que por lá passaram, imaginei que um dia tudo seria varrido pela chuva de fogo do vulcão. Isso sim seria um cenário deslumbrante e único. Seria também o último que testemunharíamos: fascinante e aterrador. Mas imaginei. Imaginei um mar de chamas a erguer-se e a varrer aquelas letras. Assim como todos nós um dia seremos um dia varridos da face da Terra. Não nós: matéria. Passaremos a fazer parte do corpo terrestre: transformação. Mas nós como seres pensantes, pessoas com alma, desejos, alegrias, receios, pensamentos e sonhos.
Repousámos um pouco no topo. Escutámos histórias dos guias e confraternizamos com um outro viajante, um professor alemão que havíamos conhecido na véspera.
Iniciámos a descida (supostamente um dos momentos altos). Não posso negar que é fascinante admirar uma estrada de pedras negras quase tão íngreme como a parede duma casa. Descer por ali é enterrar-mo-nos em pedrinhas até às canelas, ficar com o calçado repleto de areia, duplicar o cansaço das pernas e definir as maleitas nos pobres pezinhos (que o diga o meu pezito direito que ficou com duas feridas e uma bolha).
Depois de três sacudidelas das pedritas dos sapatos, as meias não resistiram e os pés estavam quase tão negros como o chão).
Quando chegámos à base, a uma hora de caminho, mal podia crer. Tive de me apoiar numa das bengalas do guia (já para não falar que desci com o apoio da sua mão).
No fim, acho que nunca fiquei tão contente por me descalçar e alcançar uma garrafa de água.
Recomendo vivamente a quem gostar de escalada. É uma experiência interessante.
Para todos os outros, a menos que adorem provas de esforço e sejam fisicamente resistentes, não acho que valha a pena subir. Vale a pena ver a ilha, mas a subida é demasiado para o que se contempla. Há quem considere que se trata dum desafio para connosco próprios...
Eu continuo a preferir longas caminhadas por terrenos mais planos, preferencialmente à beira-mar. 

Dedicado aos meus resistentes companheiros de viagem e ao nosso paciente e generoso guia.

domingo, 10 de julho de 2011

After Some Time You Learn

"After some time you learn the difference,
The subtle difference between holding a hand and chaining a soul.
And you learn that love doesn't mean leaning,
And company doesn't always mean security.
And you begin to learn that kisses aren't contracts,
And presents aren't promises.

And you begin to accept your defeats,
With your head up and your eyes ahead,
With the grace of a woman, not the grief of a child.
And you learn to build all your roads on today,
Because tomorrow's ground is too uncertain for plans,
And futures have a way of falling down in mid-flight.



After a while you learn, that even the sun burns if you get too much,
And learn that it doesn't matter how much you do care about,
Some people simply don't care at all.
And you accept that it doesn't matter how good a person is,
She will hurt you once in a while,
And you need to forgive her for that.

You learn that talking can relieve emotional pain. 
You discover that it takes several years to build a relationship based on confidence,
And just a few seconds to destroy it.
And that you can do something just in an instant,
And which you will regret for the rest of your life.
You learn that the true friendships, 

Continue to grow even from miles away. 
And that what matters isn't what you have in your life,
But who you have in your life.
And that good friends are the family which allows us to choose.
You learn that we don't have to switch our friends,
If we understand that friends can also change.

You realize that you and your best friend can do do anything, or nothing,
And have good moments together.
You discover that the people who you most care about in your life,
Are taken from you so quickly,
So we must always leave the people who we care about with lovely words,
It may be the last time we see them.

You learn that the circumstances and the environment have influence upon us, 
But we are responsible for ourselves. 
You start to learn that you should not compare yourself with others,
But with the best you can be.
You discover that it takes a long time to become the person you wish to be, 
And that the time is short. 

You learn that it doesn't matter where you have reached,
But where you are going to.
But if you don't know where you are going to, anywhere will do.
You learn that either you control your acts, or they shall control you.
And that to be flexible doesn't mean to be weak or not to have personality,
Because it doesn't matter how delicate and fragile the situation is,
There are always two sides.

You learn that heroes are those who did what was necessary to be done,
Facing the consequences.
You learn that patience demands a lot of practice.
You discover that sometimes, the person who you most expect to be kicked by when you fall,
Is one of the few who will help you to stand up.

You learn that maturity has more to do with the kinds of experiences you had
And what you have learned from them,
Than how many birthdays you have celebrated.
You learn that there are more from you parents inside you than you thought.

You learn that we shall never tell a child that dreams are silly,
Very few things are so humiliating,
And it would be a tragedy if she believed in it.
You learn that when you are angry, you have the right to be angry,
But this doesn't give you the right to be cruel.
You discover that only because someone doesn't love you the way you would like her to,
It doesn't mean that this person doesn't love you the most she can,
Because there are people who love us, but just don't know how to show or live that.

You learn that sometimes it isn't enough being forgiven by someone,
Sometimes you have to learn how to forgive yourself.
You learn that with the same harshness you judge,
Some day you will be condemned.
You learn that it doesn't matter in how many pieces your heart has been broken,
The world doesn't stop for you to fix it.

You learn that time isn't something you can turn back,
Therefore you must plant your own garden and decorate your own soul,
Instead of waiting for someone to bring you flowers.
And you learn that you really can endure.
You really are strong.

And you can go so farther than you thought you could go.
And that life really has a value.
And you have value within the life.
And that our gifts are betrayers,
And make us lose
The good we could conquer,
If it wasn't for the fear of trying."

William Shakespeare

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Podemos Escolher Ser Felizes?

Há dias deixei uma sábia frase de Anais Nin sobre o incessante movimento a que todos estamos sujeitos ao longo do percurso e sobre a vontade que temos em eleger um estado e permanecer nele.
A propósito dessa escolha, surge a questão se é possível escolhermos ser felizes.
Para tentar responder a uma questão desta envergadura é, antes de mais, necessário compreender o que é a felicidade. A felicidade não será um estado permanente a que se aspira, mas sim pequenos momentos de intensidade.
O que caracteriza então a sensação de felicidade?
Diria que o principal ingrediente seria a uma certa sensação de liberdade que só conseguimos sentir em determinados momentos ou situações ou com determinadas pessoas.
A liberdade pura transmitir-se-ia por uma ausência de dependência de tempo e de bens materiais. No mundo em que vivemos é extremamente difícil que não nos sintamos com frequência escravos duma ou outra coisa. Daí que o estado de felicidade se traduza em pequenos cumes numa vivência.
Quando se aspira à felicidade plena e permanente, aspira-se na realidade a um estado de serenidade. Para atingir esse estado de serenidade ou paz interior é, acima de tudo, necessário aceitar o mundo tal como este se nos apresenta. Aceitar cada experiência que nos atravessa tal como ela é. Vivê-la intensamente, despojados daquele desejo de que a mesma permaneça. Porque cada experiência é isso mesmo: uma experiência, ou seja, não permanecerá no tempo e espaço; apenas ficará na nossa mente, no nosso ser, como parte intrínseca de quem somos.
É frequentemente difícil a aceitação deste facto.
As incertezas que acompanham a caminhada no mundo actual aliadas ao frenesim diário e à frequente ausência de auto-conhecimento transmitem sensações de angústia e, por vezes, até incapacidade face ao que nos acontece. Essas angústias e receios levam-nos a desejar a tal permanência num determinado estado.
A única maneira de nos libertarmos dessa sensação é aceitação. A aceitação é a chave de tudo. A aceitação leva-nos a conhecermo-nos melhor a nós próprios e ao mundo que nos rodeia e, consequentemente, leva-nos a que a caminhada diária seja feita com tranquilidade.
E a melhor maneira nos tornarmos mais tolerantes, mais conscientes do mundo que nos rodeia é viajar. Pode ser uma viagem através dum livro, dum filme, da nossa própria mente. Viajamos com o olhar, com as sensações que nos atravessam.
As viagens são pontos de encontro connosco próprios.
“People are as happy as they make up their minds to be.” Abraham Lincoln

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Invictus

"Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul."

William Ernest Henley

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Poder Do Cinema

Ao ler esta notícia:
Não posso deixar de sorrir. Se juntarmos um génio da literatura e poesia à genialidade da sétima arte, teremos um resultado apoteótico.
As próprias palavras de Pessoa: o cinema é “uma das maiores armas de propaganda que se pode imaginar” não podiam ser mais verdadeiras. Reconhecer essa arma e investir nesse meio é uma das melhores apostas que se pode fazer para a divulgação dum país, duma cultura, dum povo. Não tenho dúvidas de que a visibilidade que o cinema português poderá ganhar no mundo será um meio de propaganda do próprio país.
O cinema tem poderes inimagináveis:
- Permite-nos viajar por outros tempos e lugares.
- Ter vontade de visitar um determinado cenário.
- Conhecer um pouco melhor uma cultura.
- Ditar modas.
- Definir todo um estilo e uma estética visual.
- Desenvolver a imaginação.
- Abrir as portas de mente.
- Questionar sobre toda uma série de temáticas.
Apenas para mencionar alguns dos inegáveis poderes do cinema.
Foi o cinema que lançou o tabaco, as calças femininas, a camisola interior masculina como peça exterior, a gabardine, os blusões de cabedal, os jeans e toda uma série de modas e estilos que ainda hoje vigoram no imaginário duma determinada época.
Ainda vemos o espaço e o ambiente duma nave espacial tal como Kubrick o reproduziu no mítico 2001: A Space Odyssey. E um cenário futurista ainda vai beber muito ao Blade Runner de Ridley Scott.
Já para não falar de pensamentos mais profundos sobre determinados assuntos, nomeadamente política, cuja sétima arte foi por diversas vezes o veículo de propaganda.
Todo o misticismo da cultura americana, tão intrinsecamente enraizada no mundo, deve-se sobretudo ao cinema. O ideal do sonho americano, a road trip, todo o imaginário do american world é fruto do impacto do cinema no mundo. Tal como o era há umas décadas a elegância do cinema francês e a sensualidade do cinema italiano.
O investimento na cultura é um passo fundamental para o desenvolvimento dum país, nomeadamente na sétima arte, por ser a que permite reproduzir com maior profundidade tudo o que envolve e compõe essa cultura.
Por isso mesmo o cinema como arma de propaganda e notoriedade, ponte de conhecimento com o mundo e construção de imaginários deveria ser devidamente utilizado para divulgar Portugal no mundo.

Meu Bem Querer

Para grande pena minha (e imensas mais pessoas) Djavan adiou o concerto prometido para a primeira sexta-feira de Julho.
Resta-nos continuar a escutar estas delícias e esperar que surja outra possibilidade duma noite musicalmente oceânica: