quarta-feira, 4 de maio de 2011

Olhares Sussurrados I

Num lugar solarengo -

Que escalda -

Ela também existe,

Ateando com ardor

Tudo o que toca,

Até as chamas se propagarem.

Talvez mais disfarçada

Ou até mesmo escondida,

Mas sempre presente.

É comum a homens e deuses:

Ninguém lhe escapa,

Pois assalta os desprevenidos

Nos momentos de lucidez.


O sossego do olhar

Contempla a admiração

De quem passa pela estrada

E se perde na canção,

Que atravessa as paredes da casa.

Num colorido vibrante -

Que desperta a atenção

De quem segue na calçada -

Está viva a memória

Do herói dum povo forte,

Que lutou até à morte

Pelo seu nobre ideal.


A placidez da paisagem

Traz à memória aventuras

De histórias passadas

No azul ondulante,

Onde se quedam navios

Encalhados pelo destino,

Condenados a permanência forçada

Numa terra de vento,

Na cidade que dá nome

À menina do mar.


Meninos de terra

Meninos de vento

Meninos feitos de força -

Aquela força de quem não conhece o amanhã.

O engenho nasceu da necessidade

E a cada novo querer,

Há mil portas que se abrem na mente

E olhos que vêem o mundo duma nova maneira -

Aquela maneira que é servente dos propósitos da vontade.

Meninos feitos de força -

Aquela força de quem sabe viver com pouco,

Porque para viver basta

A liberdade na mão

E o sorriso no olhar.


Quem manda é ela,

Neste vale limpo

Em que invade a terra.

Apenas ela decide

Se dá luz a estes seres

Ou os deixa secar em pavor.

Ela é escassa e vadia:

Nem sempre aparece

Quando a chamam;

Define a rota

Que decide tomar,

Alheia a tudo o que atravessa.

Mas espelha em si

Cada testemunha

Que a vê passar.


Fotografia: Vanda Marques

Texto: Natália Costa

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