terça-feira, 19 de abril de 2011

"Só sei que nada sei"

Onde está? Onde está a linha que separa a opinião da condenação? Onde está a linha que separa o pensar do julgar? Onde está?
Estará nas palavras, nos actos, nos pensamentos? Estará na delicadeza, no tacto ou na maneira de falar? Estará no que os outros ouvem ou no que nós dizemos?
E como se magoa alguém com uma afirmação inocente?
Não é fácil de explicar por palavras coisas que se sentem. Pode ser o tom de voz ou as palavras erradas, mas algo nos fez sentir de determinada maneira.
A maior parte das vezes a pessoa que fala nem tem consciência do efeito das suas palavras.
Será, de facto, melhor guardar o que realmente pensamos para nós ou poderemos debater com alguém próximo o que pensamos e o que sentimos?
Valerá a pena debater o que se sente? Porque não o guardamos apenas para nós?
Valerá a pena debater o que se pensa? Pode levar a conversas interessantes e à abertura da mente sobre um determinado assunto. É como uma viagem á opinião alheia, após a qual se abrem novos ponto de vista na nossa mente, ou se encontram novos argumentos para os nossos.
Talvez seja importante escolher as pessoas com quem escolhemos fazê-lo.
Partilhar sentimentos é algo muito pessoal. Neste momento, sou da opinião de que devemos evitar fazê-lo. Não vai mudar o que sentimos, a maior parte das vezes não nos vai fazer sentir melhor, nem trazer uma nova luz sobre o tema. É algo muito pessoal que experienciamos apenas connosco próprios. E é difícil de explicar por palavras essa experiência pessoal (foi para isso que se inventou a poesia), por isso o mais provável é que ao tentar explicá-lo algo se perca pelo caminho e o receptor (mesmo sendo o nosso cúmplice e melhor amigo de anos) apenas receba uma parte, algo que estará sempre toldado pela sua própria visão (porque tudo o que vemos está toldado pela nossa própria visão).
Partilhar pensamentos é diferente. Pode e, quem sabe até mesmo, deve ser feito, pois é no diálogo, sobretudo na oposição que nascem grandes ideias e que acontece a evolução. A evolução das pessoas e das ideias. E, é aqui, que é necessário encontrar a linha, para não passar de partilha e debate de ideias ao campo dos sentimentos. É um exercício desafiante conseguir encontrar a linha e mantê-la no lugar. Penso que com a experiência e a maturidade isso acabe por chegar, naturalmente. O dom de discutir um assunto amigavelmente, reconhecendo que podem existir pontos de vista tão díspares e opostos como quantas pessoas existem no mundo.
As grandes amizades são sempre simultaneamente cúmplices e de opiniões, nem sempre concordantes, vincadas e respeitosamente debatidas até à exaustão.

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