sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Portugal e Cabo Verde

Entrevista - Jorge Carlos Fonseca, Presidente da República de Cabo Verde
"Cabo Verde e Portugal podem fazer mais ao nível cultural e empresarial"

Jorge Carlos Fonseca toma hoje posse como presidente da República de Cabo Verde. Em entrevista, defende que o seu país deve aumentar mais rapidamente o ritmo do crescimento económico.
Jorge Carlos Fonseca surpreendeu na segunda volta das eleições presidenciais cabo-verdianas ao derrotar Manuel Inocêncio, o candidato apoiado pelo PAICV, o partido no governo.

Em entrevista por escrito ao Negócios, diz que o turismo, a hotelaria, as Obras Públicas e a consultoria são boas oportunidades de investimento no seu país. E promete ser "uma mais-valia na governação" de Cabo Verde.

Como é que perspectiva o relacionamento entre Portugal e Cabo Verde?
O relacionamento, nos últimos anos, entre Cabo Verde e Portugal merece uma nota muito positiva, embora esteja consciente de que podemos trabalhar ainda bastante no sentido de aprofundar mais intensamente os nossos laços. Ao nível político, diplomático ou institucional, o nosso relacionamento encontra-se perfeitamente maduro. Mas podemos fazer mais ao nível cultural, empresarial e também no que toca à integração das nossas comunidades. O bom relacionamento com Portugal é algo que procurarei estimular permanentemente durante o exercício do meu mandato.

O investimento português em Cabo Verde está estagnado? Em que áreas pode ser incrementado?
O investimento português em Cabo Verde é sempre bem-vindo. Sabemos que o actual contexto económico-financeiro não é o mais propício para o investimento. A situação de crise em Portugal é conhecida, mas estou convicto de que o governo português e as empresas portuguesas serão capazes de encontrar o rumo mais adequado para sair da crise. Quanto às áreas, eu julgo que as oportunidades existem de forma diversificada e abrangente. Do turismo à hotelaria, às obras públicas, passando por consultorias especializadas em diversos domínios, as oportunidades existem.

Está satisfeito com o nível de desenvolvimento do país? Em que sectores considera necessário reforçar a aposta?
Cabo Verde desenvolveu-se bastante nos últimos 20 anos, mas há ainda um longo caminho a percorrer. Quero que deixe de ser um país subdesenvolvido no mais curto período de tempo. Para isso, precisamos de aumentar o ritmo de crescimento económico - actualmente é de 4% ao ano - ao longo de um período relativamente prolongado no tempo. Só assim conseguiremos aumentar o emprego e garantir um país melhoras gerações vindouras. O governo deve ser responsável por definir esses sectores, mas o que posso dizer é o seguinte: devemos ser capazes de aproveitar a capacidade de investimento das nossas comunidades imigrantes, elas serão a alavanca principal de investimento em Cabo Verde nos próximos anos.

Que papel Cabo Verde deve desempenhar na CPLP? Concorda com a adesão plena da Guiné Equatorial à CPLP?
Cabo Verde pode desempenhar um papel importante ao nível do diálogo político e diplomático. Tenho uma ideia pessoal relativamente à CPLP: entendo que ela deve ser mais uma Comunidade de Povos do que uma Comunidade de Países ou Estados. Questões como a livre circulação de pessoas não deve ser excluída no espaço dessa comunidade... Por que não abrir a discussão a esse assunto? Quanto à Guiné Equatorial, devo dizer com toda a frontalidade que devemos encarar à nossa relação com os países africanos de forma totalmente descomplexada, nunca olvidando a nossa especificidade, o nosso modo de estar no mundo, com os nossos valores e princípios. Se a Guiné Equatorial reunir Condições objectivas, condições políticas, de regime, que lhe permitam aderir à CPLP, não vejo porque o assunto não possa ser discutido e decidido abertamente. Neste momento, julgo que não existem condições objectivas, designadamente ao nível da utilização da língua portuguesa, quer por parte da população, quer por parte da administração do Estado, mas igualmente no que toca a pressupostos atinentes a valores, princípios e ideário minimamente comuns que pudessem favorecer uma tal solução.

Como é que será o seu relacionamento com o governo, levando em linha de conta que o PAICV apoiou outro candidato?
O meu relacionamento será de cooperação leal. Trabalharei em estreita cooperação com o governo naquilo que seja o cumprimento do seu programa eleitoral, legitimamente sufragado pelos cabo-verdianos em Fevereiro deste ano. Não sou o presidente da oposição. Sou um presidente actuante, atento ao país real, empenhado no crescimento económico do meu país e na melhoria objectiva, palpável e mensurável da qualidade de vida dos cabo-verdianos. A minha equidistância é absoluta, quer em relação ao partido do governo, quer em relação aos partidos da oposição.
Mas tal não pode significar alheamento perante os desafios e problemas. Exercerei uma magistratura de influência, política e moral, activa, no quadro das competências que a constituição confere ao presidente da República. O que deve traduzir-se, sempre que necessário, numa mais-valia para a governação. Uma voz, de qualquer modo, diferente, autónoma, construtiva.


Portugal é o principal fornecedor

Em 2010, o investimento português em Cabo verde cresceu 184,8% face a 2009, situando-se nos 30,9 milhões de euros. A construção absorve a fatia de leão dos Investimentos, representando 43,5% do total. A par deste aumento de IDE (investimento directo estrangeiro), o valor em causa está ainda muito distante dos 56,345 milhões de euros que foram contabilizados no ano de 2006. Em termos de balança comercial, Portugal tem sido, nos últimos cinco anos - de 2006 a 2010 -, o primeiro fornecedor de Cabo verde, tendo as exportações atingido os 263,4 milhões de euros.
2011-09-09 08:17
Celso Filipe, Jornal de Negócios

Um comentário:

  1. E para que eles saibam têm aqui dois recursos humanos de áreas bastante válidas para o crescimento de Cabo Verde à disposição! Vamos enviar mas é uma carta para o Sr. Presidente da República!!!

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