sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A minha última esperança

Estou a esticar. Mais um bocadinho. E eu vou: cada vez mais.
Assim: não vai dar. Estou a atingir um limite. Um limite de paciência. Um limite de sofrimento. Um limite de esforço. Um limite de tudo o que é suportável ou tolerável, seja por quem for.
Já me deixei ficar de tanga. Já apertei o cinto. Já tolerei gastos desnecessários. Já tolerei subidas castradoras até descidas vertiginosas (na qualidade de vida). Já suportei as mais insultuosas verdades - sem reagir. Tudo consegui aguentar: firme, hirta, intocável. Cumpri o meu papel, com distinção - sempre. Um orgulho que, sem mim, não se conseguiria erguer.
No pior cenário, eu continuei a segurá-la no seu pedestal: lá no alto, sujeita aos mais tempestuosos ventos e ao esfomeado Sol (que devora as suas cores). Sobre a terra e sobre o mar: estive lá. Por entre armas e canhões me mantive: marchei - sempre - pela pátria. Mas mais um bocadinho e rebento! Mais um bocadinho e não consigo levantar o esplendor de Portugal.
Como cheguei até tão longe? – Perguntam-me.
Não sei. – Respondo. – Fui forte. Fui corajosa. Encontrei forças nos momentos mais angustiantes e consegui erguê-la - sempre. Todos os dias, encontrei forças, no mais recôndito do meu ser. Encontrei forças, onde achei que só encontraria angústias e lamúrias.
Quando achei que não teria de lutar mais, novos monstros de mim se apoderaram. Os “mostrengos” deste mundo já não vivem no fim do mar. O nobre povo (que mares conquistou) vê-se engolido por intermináveis trevas.
“Ninguém nos pisará, se não dobrarmos as costas.” – Disse Luther King. Por isso, eu digo: erguei-vos! Eu grito: lutai! Eu imploro: façam-se ouvir!
Mas as minhas palavras são: em vão. Tudo tolera; tudo estica - um pouco mais. Mas o limite está cada vez mais próximo. O limite que nos libertará aproxima-se, como a força da luz a invadir a madrugada. No dia em que a luz irromper, erguer-se-ão os inconformados trovões e os cansados relâmpagos - numa chuva de palavras e gestos e gritos - que trarão um novo rumo a esta velha nau - que desertou.
Sinto que o limite está perto, mas o momento não chega. O momento: tarda. Tarda demais!
Sinto-me sem forças. Não consigo esticar mais. Um pouco mais e rebento, atirando ao chão o orgulho nacional.
Mas num nebuloso dia (deste Outono – espero) há-de vir (finalmente) D. Sebastião para me salvar.

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