Confiança é fundamental.
Tem de haver sempre algo ou alguém em quem possamos confiar. Algo ou alguém em que acreditemos. Algo ou alguém pelos quais sintamos que vale a pena. Algo ou alguém que nos mostrem o caminho para não nos sentirmos perdidos.
Algo que nos mova. Que nos dê sentido. Que nos faça acreditar que tudo é possível. Que nos faça crer que há coisas que não se explicam.
Alguém a quem possamos contar as nossas histórias. De quem saibamos com o que contar. Com quem possamos rir-nos genuinamente em uníssono. Com quem possamos dividir os nossos sórdidos segredos.
Os segredos se são segredos devemos guardá-los para nós. Só assim permanecerão segredos. Mas o ser humano tem uma ânsia insaciável de partilhar tudo. Sobretudo segredos. É tão revigorante partilhar um segredo com um amigo. O segredo deixa de ser nosso. O segredo deixa de ser segredo, mas é como se dali nascesse uma cumplicidade bilateral por termos a quem o contar. É como se nos sentíssemos menos sozinhos por termos pegado em algo só nosso e partilhá-lo. É um bocadinho como abrir uma caixinha de surpresas porque a partir dali tudo pode acontecer. A perspectiva que temos sobre o nosso segredo será alterada para sempre. Primeiro porque deixou de ser o nosso segredo. Segundo porque a nossa perspectiva será influenciada pela visão da pessoa com quem o partilhamos. Terceiro e último porque por vezes, na análise conjunta, descobrimos um pequeno pormenor que não tínhamos vislumbrado anteriormente.
Eu continuo a acreditar que há coisas que não se partilham. Coisas que se guardam apenas para nós. Coisas das quais abdicamos um bocadinho de ser quem somos se as partilharmos. Porém, o entusiasmo da partilha trai-nos muitas vezes. É tão bom partilhar!
Para partilhar tem de haver confiança. Para haver confiança tem de haver algo inexplicável. Não é tempo ou experiência ou sabedoria.
Por muito tempo que passe há pessoas nas quais nunca confiaremos. A passagem do tempo apenas consolidará a confiança que temos em alguém ou eventualmente, destruirá essa confiança. E a confiança uma vez perdida é irrecuperável. Fica sempre uma leve dúvida no ar. Os olhos nunca mais observarão com a inocência perdida. A inquietação provocada por uma ínfima pontinha de desconfiança é suficiente para provocar a maior tempestade. Que o diga Desdemona…
Também não é a experiência que nos faz ou não confiar em alguém. A experiência poderá ajudar a discernir se a pessoa tem ou não carácter ou permitir avaliar com maior rapidez o potencial duma determinada situação.
O que nos leva a confiar é algo que não se explica. Algo em que acreditamos mas não sabemos o que nos levou a isso. É algo que se sente.
Confiar em alguém coloca-nos numa posição vulnerável mas só nessa posição conseguimos alcançar o júbilo da partilha que nos leva à cumplicidade.
Acima de tudo é imprescindível que tenhamos confiança em nós próprios. Porque dessa forma sentimo-nos fortes e capazes de tudo.
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