segunda-feira, 28 de março de 2011

Diário de Bordo

Já muito se escreveu sobre esse gigante, mas não há palavra, fotografia ou filme que demonstre a imensidão do mar.
O seu poderoso balançar e a doçura com que as ondas acariciam a areia de cada vez que regressam, como se retornassem ao lar.
Todas as pessoas que cresceram junto à costa têm uma inegável relação especial com o mar. Faz-lhes falta estar longe dele, como se esmorecessem na sua ausência.
As ilhas são lugares pequenos, remotos, mas onde quer que se olhe ele espreita com o seu ondular inquieto, entranhando-se nas pessoas. Essa será a principal vantagem duma ilha pequena: poder repousar os olhos no mar, em qualquer lugar que se esteja.
Por vezes questiono-me como será a vida de alguém que jamais viu o mar, ou que apenas o vê na doçura das férias. Para alguém que cresceu na costa daquele cantinho à beira mar é difícil de imaginar como será uma existência sem o seu constante murmúrio.
A cor deste mar é diferente, como se o imenso gigante estivesse mais tranquilo, repousado, mais cristalino, espelhando o azul do céu em vários tons límpidos, deste lado.
E de todos os mares, não há nenhum com mais histórias para contar do que o Mar Português, tão bem descrito pelo mais genial poeta de sempre:

Mar Português
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

em “A Mensagem” de Fernando Pessoa

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