Ao contrário do que o dito senso comum refere não existem cinco mas sim pelo menos nove sentidos. Temos os cinco nos quais imediatamente pensamos quando se fala em sentidos: tacto, gosto, olfacto, visão e audição. Temos sentidos que, estando dependentes dum ou mais órgãos, são tão fundamentais para estarmos vivos que nem damos por eles: equilíbrio, temperatura, sensibilidade e sentido do si no espaço. Para além destes nove sentidos temos também a intuição cuja designação como sentido ainda não foi totalmente definida.
O nariz permite-nos cheirar. Aliado à língua, permite-nos desfrutar duma refeição, sentindo o aroma dos alimentos. Aliado à visão permite-nos identificar locais e pessoas.
A sensibilidade do olfacto é tão elevada que num segundo, um aroma consegue-nos transportar para locais tão distantes e memórias tão antigas que já nem nos lembrávamos que existiam.
Como o cheiro dos chorões que nos transportam para o jardim da escola onde brincávamos em crianças. Como o cheiro a algas e a iodo nos transporta de imediato para a paisagem rochosa das praias do norte com o mar bravo a enrolar-se na areia. Como o cheiro de lavanda nos leva para os lençóis lavados estendidos ao sol. Como o cheirinho das sardinhas assadas nos insere nas festas populares em que as multidões enchem as ruas com alegria. Como o cheiro de cerveja e tabaco nos arrasta novamente para as festas académicas. Como o cheiro a especiarias nos leva de volta àquele mercado exótico por onde passeámos nas férias. Como o cheiro da terra molhada nos encaminha para os primeiros dias de Outono. E como o cheiro da maresia nos leva para aqueles dias quentes de Verão passados na praia.
Ao sentir qualquer um destes aromas é como se de facto viajássemos no tempo e no espaço. Um aroma fica-nos cravado na memória. É imperceptível. Só damos conta quando o sentimos novamente. Como se fossemos buscar uma recordação esquecida a uma antiga gaveta.
É por essa razão que um perfume é tão importante. Faz parte da pessoa. É uma extensão de si. É o que quebra a barreira entre miragem e realidade. Um perfume é um pequeno luxo. Uma maneira de acreditarmos naquilo que os olhos miram.
O cinema só estará completo no dia em que para além das sofisticadas imagens e do elaborado som que nos contagiam, também o olfacto sentir os aromas que acompanham todas as aventuras que acontecem no grande ecrã. Só nesse dia a Sétima Arte será uma verdadeira reprodução da vida e nos gravará de forma indelével a memória.
"A Persistência da Memória" - Salvador Dalí (11/05/1904 - 23/01/1989)
Cinema com cheiro... Nunca tinha pensado nisso! Mas parece-me uma óptima ideia :)
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Seria sem dúvida interessante, mas junto com isso teriam que inventar pipocas inodoras, para não se confundir os aromas lol ! :)
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