É fácil apontar o dedo. Que ponha o dedo no ar quem nunca o fez.
As pessoas têm normalmente expectativas em relação a um determinado assunto, a uma determinada situação ou a um determinado ser humano. É inerente à condição humana possuir pensamento e opinião em relação a tudo e, consequentemente, ter um determinado pensamento em relação a um assunto que ainda não aconteceu ou que já sucedeu.
O quê que nos faz pensar ou ficar expectantes em relação à possibilidade dum determinado evento? O quê que nos faz julgar os outros com base na nossa visão das coisas?
Antes de mais as pessoas vivem em sociedade e, vivendo em sociedade, o pensamento deixa de ser individual e passa a estar condicionado pelos estímulos exteriores. Obviamente, o pensamento está sempre condicionado pelas influências exteriores, por muito isolado que viva um ser. No entanto, o estar em sociedade condiciona a maneira como as pessoas vêem, analisam e pensam sobre um determinado assunto. Condiciona o próprio exercício de pensar e o modo como se encara uma determinada situação. Agimos não por vontade, mas por ser isso que esperam de nós.
Vivendo em sociedade tendencialmente são criados rótulos. Talvez numa tentativa de simplificar e armazenar a informação. Rótulos para as situações, os sentimentos ou até mesmo as pessoas que nos rodeiam. Os chamados outros. É tão fácil criar logo uma imagem do outro e etiquetá-lo. Assim é mais simples. Quando se pensa nessa pessoa é só ir buscá-la e a todos os pressupostos que assumimos à partida na nossa visão desse ser, à respectiva gaveta.
Porquê que é sempre necessário encontrar uma definição para algo?
A necessidade de rotular as situações poderá advir da necessidade de aceitação do ser humano. O ser humano quer ser aceite em sociedade. Quer acima de tudo, ser amado. É por essa razão que a opinião dos outros é tão importante e por vezes tão exacerbada dentro de nós e é por esse motivo que tendemos a pensar ou agir em consonância com o pensamento colectivo ou até mesmo a ser demasiado permissivos em relação à nossa própria vontade.
Fala-se muito em liberdade. Liberdade de agir, de falar, de sentir, de ser. Liberdade de pensar. Somos livres de pensar o que queremos. O pensamento ninguém nos tira. Mas é difícil libertarmo-nos das amarras invisíveis inerentes ao meio em que vivemos ou às pessoas que convivem connosco no dia-a-dia. É difícil deixar o pensamento fluir sem que o mesmo se sinta subjugado na nossa mente à ideia pré concebida que temos do assunto em questão, à hipotética opinião colectiva e, até mesmo, aos nossos próprios receios. A maior parte das vezes o nosso pensamento não se pode libertar de nós mesmos, porque exercemos o acto de pensar sem termos plena consciência das nossas próprias limitações.
Falar com alguém pode ser libertador. Pode ajudar-nos a consciencializar facetas nossas que sozinhos dificilmente conseguiríamos discernir. A vida em sociedade é feita desta ambivalência entre estarmos condicionados pelo que os outros pensam e simultaneamente precisarmos dos outros para nos ajudarem a realizar a nossa própria introspecção. A linha entre a opinião dos outros e a influência que deixamos que os outros, ou aqueles que verdadeiramente nos importam, tenham em nós é muito ténue. É demasiado ténue e os limites quase imperceptíveis têm de ser estabelecidos por nós e para nós mesmos. Temos de perceber qual a influência que os outros podem ter em nós e qual a influência que vamos deixar que efectivamente tenham em nós. É importante partilhar com outro ser humano, mas não antes de o partilharmos no nosso íntimo.
E é daqui que advêm as expectativas. Expectativas do que os outros pensam de nós. Expectativas do que os outros vão dizer. Expectativas de que as pessoas ajam como nós agiríamos ou como esperamos que hajam.
As expectativas elevadas levam ao medo. Medo de não sermos quem verdadeiramente somos quando socializamos. Medo de desiludirmos os outros na sua visão de nós. Medo de não estarmos à altura duma determinada situação. Medo de não sermos aceites. Medo de deixarmos que os outros nos vejam como realmente somos.
O medo condiciona-nos. Tira-nos a liberdade. Temos de conseguir vencer o medo de nós próprios. O medo de não sermos capazes. O medo de falhar.
Temos de conseguir libertar-nos das expectativas que temos em relação a tudo para que o medo não nos vença. Não podemos refugiar-nos no medo como uma desculpa para não viver ou não agir ou não pensar.
Temos de acreditar que vivendo um dia de cada vez tudo se consegue e a vida é demasiado curta para nos perdermos em pensamentos infrutuosos, por isso temos de sair da ideia e tomar uma atitude: arriscar.
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