domingo, 27 de junho de 2010

Fotografia

Acho que é por causa do silêncio que gosto tanto de fotografia. O silêncio das imagens. A eternidade dum instante captada na lente duma objectiva e traduzida numa imagem inalterável. O para sempre contido numa figura.
A fotografia tem o poder de captar e eternizar momentos únicos. Pode imobilizar uma lágrima que escorre pela face, um sorriso que se abre na boca, um carinho que se faz com ternura, um olhar meigo que acaricia quem mais queremos…
Bons ou maus, bonitos ou feios, lentos ou rápidos, simples ou complexos, todos os momentos são abrangido no mais pequeno espaço apreciável de tempo. O tempo de disparo é tão reduzido que por vezes essa representação se nos assemelha a algo que não corresponde ao que foi, confundindo os olhos de quem vê.
As fotografias são hipnotizantes, por num pequeno quadradinho conseguirem conter algo tão singular e irrepetível.


Enjoy The Silence


Creio que os actos falam mais do que as palavras. E por vezes o melhor gesto é sem dúvida o silêncio. O silêncio nunca nos compromete. Há quem diga que quem cala consente, mas eu acho que quem cala, muito sabe e pouco diz. Quem cala, ri-se por dentro. Quem cala, age sem tomar uma atitude.
O silêncio pode ser a melhor maneira de dar uma resposta.
Quantas coisas ficam por dizer em silêncios imperturbáveis e quantas coisas são ditas numa troca de olhares silenciosa.
O silêncio pode ser angustiante e levar-nos ao desespero, mas pode também ser reconfortante e aprazível. Pode ser o refúgio que tanto procurávamos e até mesmo o nosso porto de abrigo.
A par do sono e do riso, o silêncio é talvez a maior coisa que se pode partilhar com outro ser humano. Não há nada mais íntimo do que partilhar um agradável silêncio seguido dum sorriso cúmplice.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Great Expectations

É fácil apontar o dedo. Que ponha o dedo no ar quem nunca o fez.
As pessoas têm normalmente expectativas em relação a um determinado assunto, a uma determinada situação ou a um determinado ser humano. É inerente à condição humana possuir pensamento e opinião em relação a tudo e, consequentemente, ter um determinado pensamento em relação a um assunto que ainda não aconteceu ou que já sucedeu.
O quê que nos faz pensar ou ficar expectantes em relação à possibilidade dum determinado evento? O quê que nos faz julgar os outros com base na nossa visão das coisas?
Antes de mais as pessoas vivem em sociedade e, vivendo em sociedade, o pensamento deixa de ser individual e passa a estar condicionado pelos estímulos exteriores. Obviamente, o pensamento está sempre condicionado pelas influências exteriores, por muito isolado que viva um ser. No entanto, o estar em sociedade condiciona a maneira como as pessoas vêem, analisam e pensam sobre um determinado assunto. Condiciona o próprio exercício de pensar e o modo como se encara uma determinada situação. Agimos não por vontade, mas por ser isso que esperam de nós.
Vivendo em sociedade tendencialmente são criados rótulos. Talvez numa tentativa de simplificar e armazenar a informação. Rótulos para as situações, os sentimentos ou até mesmo as pessoas que nos rodeiam. Os chamados outros. É tão fácil criar logo uma imagem do outro e etiquetá-lo. Assim é mais simples. Quando se pensa nessa pessoa é só ir buscá-la e a todos os pressupostos que assumimos à partida na nossa visão desse ser, à respectiva gaveta.
Porquê que é sempre necessário encontrar uma definição para algo?
A necessidade de rotular as situações poderá advir da necessidade de aceitação do ser humano. O ser humano quer ser aceite em sociedade. Quer acima de tudo, ser amado. É por essa razão que a opinião dos outros é tão importante e por vezes tão exacerbada dentro de nós e é por esse motivo que tendemos a pensar ou agir em consonância com o pensamento colectivo ou até mesmo a ser demasiado permissivos em relação à nossa própria vontade.
Fala-se muito em liberdade. Liberdade de agir, de falar, de sentir, de ser. Liberdade de pensar. Somos livres de pensar o que queremos. O pensamento ninguém nos tira. Mas é difícil libertarmo-nos das amarras invisíveis inerentes ao meio em que vivemos ou às pessoas que convivem connosco no dia-a-dia. É difícil deixar o pensamento fluir sem que o mesmo se sinta subjugado na nossa mente à ideia pré concebida que temos do assunto em questão, à hipotética opinião colectiva e, até mesmo, aos nossos próprios receios. A maior parte das vezes o nosso pensamento não se pode libertar de nós mesmos, porque exercemos o acto de pensar sem termos plena consciência das nossas próprias limitações.
Falar com alguém pode ser libertador. Pode ajudar-nos a consciencializar facetas nossas que sozinhos dificilmente conseguiríamos discernir. A vida em sociedade é feita desta ambivalência entre estarmos condicionados pelo que os outros pensam e simultaneamente precisarmos dos outros para nos ajudarem a realizar a nossa própria introspecção. A linha entre a opinião dos outros e a influência que deixamos que os outros, ou aqueles que verdadeiramente nos importam, tenham em nós é muito ténue. É demasiado ténue e os limites quase imperceptíveis têm de ser estabelecidos por nós e para nós mesmos. Temos de perceber qual a influência que os outros podem ter em nós e qual a influência que vamos deixar que efectivamente tenham em nós. É importante partilhar com outro ser humano, mas não antes de o partilharmos no nosso íntimo.
E é daqui que advêm as expectativas. Expectativas do que os outros pensam de nós. Expectativas do que os outros vão dizer. Expectativas de que as pessoas ajam como nós agiríamos ou como esperamos que hajam.
As expectativas elevadas levam ao medo. Medo de não sermos quem verdadeiramente somos quando socializamos. Medo de desiludirmos os outros na sua visão de nós. Medo de não estarmos à altura duma determinada situação. Medo de não sermos aceites. Medo de deixarmos que os outros nos vejam como realmente somos.
O medo condiciona-nos. Tira-nos a liberdade. Temos de conseguir vencer o medo de nós próprios. O medo de não sermos capazes. O medo de falhar.
Temos de conseguir libertar-nos das expectativas que temos em relação a tudo para que o medo não nos vença. Não podemos refugiar-nos no medo como uma desculpa para não viver ou não agir ou não pensar.
Temos de acreditar que vivendo um dia de cada vez tudo se consegue e a vida é demasiado curta para nos perdermos em pensamentos infrutuosos, por isso temos de sair da ideia e tomar uma atitude: arriscar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cidade Maravilhosa

Acho que nunca uma expressão espelhou tão bem um determinado lugar. Poucos locais conseguem reunir tanta beleza como o Rio de Janeiro. A terra da mítica garota de Ipanema é colorida, alegre e linda. Pode também ser muito cruel, mas a alegria que se vive nas ruas apazigua as mágoas que as fatalidades diárias deixam.
A cidade dos cariocas transmite a leveza de quem entra no bondinho em direcção ao Pão de Açúcar.
Transmite a languidez de quem se estende nas areias escaldantes de frente para o mar.
Transmite a vivacidade de quem dança um sambinha noite dentro.
Transmite a frescura de quem bebe uma água de côco ao amanhecer.
Transmite a loucura musical duma escapada da realidade designada Carnaval,
Transmite o carinho dos morros que protegem o calçadão.
Transmite a multiplicidade dos cheiros dos extensos jardins.
Transmite a pacatez duma lagoa tranquila.
Transmite mil e uma sensações indescritíveis que se unem na grandiosidade dos braços abertos para a vida sobre a mais bela paisagem ao anoitecer.

sábado, 19 de junho de 2010

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Go With The Flow

As pessoas acham que é suposto as coisas serem fáceis e quando se vêem açambarcados por alguma complicação não sabem como reagir. Mas as coisas são fáceis. Nós é que as complicamos. A perspectiva com que encaramos algo muda todo esse ser, ou seja, o azul pode ser branco, a noite dia, a água vinho, o fácil difícil consoante a maneira como escolhemos olhar para as coisas, ou como diz uma certa pessoa, consoante os óculos que decidimos colocar e que irão condicionar toda a nossa maneira de olhar o mundo.
Por vezes deixamos que os pensamentos nos dominem mesmo que inconscientemente. Há assuntos sobre os quais pura e simplesmente não vale a pena pensar em demasia. As coisas são como nós escolhemos que sejam.
É na diferença que se gera o conhecimento. A curiosidade provocada pela diferença faz-nos crescer e ir mais além. Faz-nos vencer barreiras que desconhecíamos e que nos achávamos incapazes de ultrapassar. Faz-nos olhar os obstáculos como oportunidades de descobrirmos mais um bocadinho de nós próprios.
É simultaneamente nos contactos com os outros e na nossa própria solidão que evoluímos. As situações que se nos deparam em sociedade originam dúvidas. Dúvidas todos temos a grande questão é como vamos lidar com isso. Há quem deixe que as dúvidas o consumam por completo. E há quem pegue nessas dúvidas e faça delas desafios a vencer e métodos de se conhecer melhor a si próprio. "Conhece-te a ti mesmo." Talvez o auto-conhecimento seja a chave para deixar que a vida flua à sua maneira. É a chave para conseguir colocar os óculos certos todas as manhãs.
E colocar óculos certos todas as manhãs é escolher como queremos que as coisas sejam. Escolher como vamos ver e agir no mundo que nos rodeia. Viver com intensidade cada experiência pois cada uma é única à sua própria maneira e é a intensidade com que vivemos e não a experiência que temos que define quem somos. Viver intensamente é viver com quatro princípios fundamentais: honra, coragem, alegria e paixão!
Honra porque devemos ser leais sempre com o que assumimos e com aquilo em que acreditamos e porque devemos ser humildes na maneira como o fazemos.
Coragem porque dela advém a força e a perseverança para nos erguermos após tantas quedas e aceitarmos que estas fazem parte do percurso e nos tornam cada vez mais fortes.
Alegria porque temos de sorrir. O poder do sorriso é gigantesco. Sorrir ajuda-nos a colocar os óculos certos. Rirmo-nos das situações que se nos deparam e rirmo-nos de nós próprios é um assumir de “Só sei que nada sei.” e uma aceitação descontraída do curso natural da vida.
Paixão porque só com muita paixão em cada discurso ou em cada gesto é que a vida faz sentido e a podemos viver intensamente, reconhecendo que cada instante da existência é único e irrepetível.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Meet You On The Other Side

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida
É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta…
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…"
Fernando Pessoa (13/06/1888 - 30/11/1935)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Memória dos Sentidos

Ao contrário do que o dito senso comum refere não existem cinco mas sim pelo menos nove sentidos. Temos os cinco nos quais imediatamente pensamos quando se fala em sentidos: tacto, gosto, olfacto, visão e audição. Temos sentidos que, estando dependentes dum ou mais órgãos, são tão fundamentais para estarmos vivos que nem damos por eles: equilíbrio, temperatura, sensibilidade e sentido do si no espaço. Para além destes nove sentidos temos também a intuição cuja designação como sentido ainda não foi totalmente definida.
O nariz permite-nos cheirar. Aliado à língua, permite-nos desfrutar duma refeição, sentindo o aroma dos alimentos. Aliado à visão permite-nos identificar locais e pessoas.
A sensibilidade do olfacto é tão elevada que num segundo, um aroma consegue-nos transportar para locais tão distantes e memórias tão antigas que já nem nos lembrávamos que existiam.
Como o cheiro dos chorões que nos transportam para o jardim da escola onde brincávamos em crianças. Como o cheiro a algas e a iodo nos transporta de imediato para a paisagem rochosa das praias do norte com o mar bravo a enrolar-se na areia. Como o cheiro de lavanda nos leva para os lençóis lavados estendidos ao sol. Como o cheirinho das sardinhas assadas nos insere nas festas populares em que as multidões enchem as ruas com alegria. Como o cheiro de cerveja e tabaco nos arrasta novamente para as festas académicas. Como o cheiro a especiarias nos leva de volta àquele mercado exótico por onde passeámos nas férias. Como o cheiro da terra molhada nos encaminha para os primeiros dias de Outono. E como o cheiro da maresia nos leva para aqueles dias quentes de Verão passados na praia.
Ao sentir qualquer um destes aromas é como se de facto viajássemos no tempo e no espaço. Um aroma fica-nos cravado na memória. É imperceptível. Só damos conta quando o sentimos novamente. Como se fossemos buscar uma recordação esquecida a uma antiga gaveta.
É por essa razão que um perfume é tão importante. Faz parte da pessoa. É uma extensão de si. É o que quebra a barreira entre miragem e realidade. Um perfume é um pequeno luxo. Uma maneira de acreditarmos naquilo que os olhos miram.
O cinema só estará completo no dia em que para além das sofisticadas imagens e do elaborado som que nos contagiam, também o olfacto sentir os aromas que acompanham todas as aventuras que acontecem no grande ecrã. Só nesse dia a Sétima Arte será uma verdadeira reprodução da vida e nos gravará de forma indelével a memória.



"A Persistência da Memória" - Salvador Dalí (11/05/1904 - 23/01/1989)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Espera

"Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça."

Eugénio de Andrade
(19/01/1923 - 13/06/2005)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Flor da Saudade

Saudade! Saudade é uma palavra que só existe na nossa língua ou descendentes. Nos outros idiomas ninguém diz “Tenho Saudade…”.
De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa as definições para a palavra Saudade consistem no seguinte:
1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que nos vemos privados.
2. Pesar, mágoa que essa privação nos causa.
3. Bot. Suspiro (planta dipsacácea).
4. Nome dado no Brasil a várias plantas.

Lembrança grata de pessoa ausente ou alguma coisa de que nos vemos privados. Ora trata-se duma recordação de algo que não podemos usufruir no momento corrente.
Pesar ou mágoa que essa privação nos causa. O pesar ou mágoa provocado advirá do facto de a pessoa que possui o sentimento de Saudade não poder usufruir dos bens que lhe assomem à memória.
Ora de acordo com as definições a Saudade não é algo muito agradável. Há uma sensação boa que lhe é intrínseca, mas essa mesma sensação provoca o desagrado inerente à impossibilidade de eternizar um momento e todas as sensações e pormenores que constituem esse momento.
Se a Saudade fosse uma deusa da mitologia grega eu imaginava-a uma bela e muda mulher de aroma inebriante que se aproxima quando menos se espera, de mansinho, vestida de branco, mas à medida que a proximidade aumenta o traje branco vai passando a negro e as suas formas perdem nitidez. Apenas fica no ar um cheiro amargo. O cheiro da angústia de jamais recuperar o irrecuperável.
Portugal é e sempre foi um país de Fado e Saudade. Um país em que o povo enfrentava esse gigante feroz e desconhecido que era o mar deixando atrás de si mil Saudades e simultaneamente levando-As consigo.
Mas a Saudade, embora não exista em mais nenhuma outra língua (tanto quanto sei) transmite uma emoção que se sobrepõe a qualquer idioma ou qualquer cultura, que é partilhada por todas as pessoas, de todos os continentes, de todos os tamanhos, de todas as cores, de todas as crenças, de todos os feitios. É universal!
Das definições 3 e 4 do Dicionário da Língua Portuguesa para a palavra Saudade, creio que a imagem seguinte falará por si só:

quarta-feira, 2 de junho de 2010

The Element

Ao ler um livro de Sir Ken Robinson consciencializei o quão pequenos somos. Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras e de facto há situações em que a perfeição destas palavras é tão nítida como uma imagem. Eu sei e todos sabemos qual é o tamanho da Terra comparativamente a outros elementos universais. Mas saber não é o mesmo que ter consciência disso. Ter consciência é interiorizar esse pensamento e sentir essa consciência.
Passarei de seguida a mostrar as imagens que falarão por si próprias:





Sim, de facto somos assim tão pequenos! É incrível como perante esta imagem tudo parece tão relativo. Todos os grandes pontos que nos assolam parecem ridiculamente ínfimos face ao inimaginável tamanho em que estamos inseridos.
Acho extraordinárias as capacidades do ser humano de criar, de pensar, de sentir, de ter consciência do seu diminuto tamanho, de se dar tanta importância, de se rir de si próprio, de achar que as questões que o assomem são o fim do mundo e ,acima de todas as características, creio que a que mais me deslumbra, é a de tentar compreender o universo em que está inserido, tentar compreender-se a si e aos outros, tentar compreender o porquê de tudo isto. A grandiosidade do ser humano é que consegue ter dentro de si naturezas desta dimensão.
O único elemento que exerce em mim o mesmo fascínio que o universo é o cérebro humano.
E creio, que é também por essa razão, que adoro a célebre “Only two things are infinite, the universe and human stupidity, and I'm not sure about the former.” de Einstein.
A incerteza de quem somos, porque estamos aqui, o que é o aqui fará sempre parte da espécie humana e são todas as estas dúvidas que tornam a existência simultaneamente estimulante e angustiante.