A sociedade tem mudado. O papel do homem e da mulher na sociedade e no mundo têm vindo a mudar. Mesmo assim e, apesar do longo percurso que as mulheres têm vindo a percorrer, ainda há resistências, sobretudo transmitidas por uma geração em que as coisas eram diferentes.
Ao ler uma entrevista da iraniana Shirin Ebadi (Nobel da Paz 2003) não podia deixar de estar mais de acordo que tem de partir (também e sobretudo) das próprias mulheres a afirmação para que haja mudanças. É difícil, sobretudo em gerações nas quais é dever e obrigação da mulher tratar da lida doméstica, independentemente de trabalhar fora ou não, gerações nas quais as meninas devem pôr a mesa e ajudar a limpar a louça, sendo que os meninos são “desculpados” dessas tarefas, ou não são tão “advertidos” que deverão ajudar nesse sentido.
Um destes dias, ao chegar do Supermercado, a minha mãe afirmou com ar escandalizado que tinham colocado congelados juntamente com bolachas, provocando a eventual degradação das mesmas. E afirmou categoricamente: “Ainda por cima era uma mulher… se ainda fosse um homem. Mas uma mulher. É inadmissível.” O quê que isto é suposto querer dizer? Terão as mulheres mais responsabilidade de estar sensibilizadas relativamente às condições de temperatura dos alimentos? Ou estar mais atentas a determinados pormenores? Ou pior, têm mais obrigação de perceber do assunto do que um homem? Um homem estaria desculpado por ser homem “Coitadito… é mesmo cromo como todos os homens. Os homens não percebem nada disto.” É de facto, este sentimento de complacência/tolerância para com os homens e ressentimento/intolerância para com as mulheres que é completamente discriminatório. É exactamente este comportamento que tem de mudar. Que não pode continuar a passar de geração em geração. Há ainda um longo caminho a percorrer, mais nuns países do que noutros. Eu tenho esperança, tal como Shirin que a Humanidade caminhe nesse sentido. Tenho esperança que homens e mulheres se unam nesta luta: terminar com todo e qualquer tipo de descriminação.
E, depois, há ainda a questão de homens que não sabem distinguir igualdade de cavalheirismo. (Eu diria até mesmo, humanidade para com as mulheres). Há homens que acham que igualdade é não deixarem uma senhora entrar primeiro num edifício, como se isso fosse algo mais do que um simples acto de cortesia. Ou acham que uma senhora deverá fazer um percurso numa viagem de pé, como se uma senhora não tivesse uma estrutura física mais frágil e menos resistente do que a de um homem. Piores do que estes espécimes, só mesmo os que sendo “cavalheiros” o são porque acham sempre que a mulher é um ser inferior e que (embora fisicamente seja incomparável) não possa estar à sua altura em qualquer outro desafio. Há mulheres que lêem muito bem mapas, há mulheres que têm uma excelente noção espacial, há mulheres que conduzem impecavelmente. Creio que apenas no plano físico os dois seres são incomparáveis; nos restantes podem – e devem – ser igualizados.
Há um filme muito interessante – embora muito leve – sobre esta temática. Chama-se Down With Love e aborda a eterna guerra dos sexos. O que os divide, as notórias diferenças, a maneira de pensar ou de agir de uns e outros. Como não poderia deixar de ser, o filme aborda também o que os une e em como nessas diferenças, por vezes, estão mais pontos em comum do que se imagina. E apesar de tudo isso - ou por causa de tudo isso - não conseguem viver uns sem os outros.
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